A Grande Muralha da China, uma maravilha antiga que resistiu ao teste do tempo, deve parte da sua longevidade a um aliado inesperado: as biocrostas.
Contrariamente às crenças anteriores de que as cianobactérias, os líquenes e o musgo poderiam estar a contribuir para a deterioração da muralha, uma nova investigação sugere que estas “biocrostas” estão, de facto, a desempenhar um papel crucial na sua preservação e estabilização.
Construída durante a dinastia Ming, entre 1368 e 1644, a parte da Grande Muralha da era Ming utilizou terra batida, uma mistura de solo, cascalho e materiais naturais. Ao longo do tempo, este material promoveu o crescimento de cianobactérias, musgos e líquenes, criando aquilo a que os investigadores chamam agora uma parte “viva” da muralha com biocrostas.
Os investigadores realizaram um estudo com amostras de oito secções da muralha da era Ming, descobrindo que 67% delas continham biocrostas. Para avaliar o seu impacto, a equipa comparou a resistência mecânica e a estabilidade do solo das secções cobertas de biocrostas com as secções compostas por terra batida simples.
As conclusões foram notáveis, escreve a IFLScience. As biocrostas demonstraram uma melhoria significativa da estabilidade, reduzindo a porosidade, a capacidade de retenção de água, a erodibilidade e a salinidade, ao mesmo tempo que aumentavam a resistência à compressão, a resistência à penetração, a resistência ao cisalhamento e a estabilidade dos agregados.
O estudo revelou que as biocrostas dominadas por musgo, em particular, tiveram um efeito positivo substancial na resistência e estabilidade do muro, reduzindo nomeadamente a sua erodibilidade. Os resultados foram publicados recentemente na revista Science Advances.
A biocrosta e o clima da região desempenharam um papel crucial neste processo. Nas zonas áridas, as cianobactérias dominavam as biocrostas, enquanto os musgos prosperavam em ambientes mais húmidos e semi-áridos.
Verificou-se que as biocrostas dominadas por musgos, que aumentaram significativamente a resistência da parede, criando uma estrutura semelhante ao cimento. Estas crostas, através da sua secreção e do seu processo de endurecimento, atuam como um escudo contra o impacto dos elementos climáticos como o vento, a chuva e as flutuações de temperatura.