Marcha contra o anti-semitismo em França atrai a extrema-direita (e dá problemas a Macron)

Stephanie Lecocq/EPA

Emmanuel Macron

A ausência de Macron foi criticada, numa marcha que ficou também marcada pela presença da extrema-direita.

Cerca de 180 mil pessoas saíram as ruas de Paris este domingo para marcharem contra a crescente onda de ataques contra judeus, na sequência da escalada de violência entre Israel e o Hamas.

Após vários dias de hesitação, Macron declarou no Sábado que não participaria da manifestação, mas estaria presente “de coração e espírito”. “Nunca fui a um protesto sobre qualquer tema,” disse Macron durante as comemorações do Dia da Lembrança. “O meu papel é tomar decisões, dizer as palavras certas quando necessário e agir.”

O Presidente francês estava a ser pressionado para se juntar à manifestação, no entanto, isso significaria caminhar ao lado de figuras da extrema-direita, como Marine Le Pen e o Presidente da Reunião Nacional (ex-Frente Nacional), Jordan Bardella, explica o Politico.

A iniciativa da manifestação partiu dos presidentes das duas Câmaras do Parlamento francês, Yaël Braun-Pivet e Gérald Larcher, como uma forma de apoiar a República Francesa e condenar o anti-semitismo, num país que tem a maior comunidade de judeus da Europa. No último mês, houve um registo de 1100 crimes e ataques anti-semitas, mais do dobro do número registado no mesmo período de 2022.

Várias figuras de todo o espectro político francês, como a primeira-ministra Elisabeth Borne, o líder dos Republicanos Eric Ciotti, e os ex-Presidentes Nicolas Sarkozy e François Hollande, marcaram presença na marcha.

A manifestação tornou-se um pesadelo logístico, com o porta-voz do Governo, Olivier Véran, a declarar que a Reunião Nacional “não tinha lugar na manifestação” e com os partidos de esquerda a pedir um “cordão republicano”, uma barreira simbólica a separar os prostestantes dos grupos de extrema-direita.

A decisão de Macron de não comparecer foi criticada pelas oposição e por grupos judaicos. Na cerimónia do Dia da Memória, no sábado, a bisneta de Alfred Dreyfus, um oficial judeu do exército injustamente acusado de espionagem na década de 1890, expressou a Macron a sua “pequena decepção” pela sua ausência.

Foram também feitas comparações entre a postura de Macron e do ex-Presidente François Mitterrand, que se juntou a uma manifestação de rua contra o anti-semitismo após a profanação de um cemitério judeu por um grupo nazi em 1990.

Por outro lado, a marcha também se tornou um problema para a extrema-direita. Com o foco na ameaça do anti-semitismo, a atenção mediática voltou-se para o passado da Reunião Nacional, em particular sobre o fundador do partido, Jean-Marie Le Pen, que é também pai de Marine Le Pen.

Jean-Marie Le Pen já enfrentou vários processos em tribunal por incitar o ódio, tendo afirmado que as câmaras de gás nazis eram só “um detalhe” da história.

O político foi também processado por causa de um vídeo de 2014 onde atacava artistas que criticaram as suas posições extremistas. Um destes críticos era o actor e cantor Patrick Bruel, com Le Pen a fazer uma referência ao Holocausto, sendo que Bruel é judeu. “Não estou supreendido. Oiçam, da próxima vez faremos uma fornada completa“, afirmou.

As sucessivas polémicas levaram a que Marine Le Pen expulsasse o pai da Frente Nacional em 2015, para tentar limpar a imagem do partido. Após negar inicialmente que Jean-Marie Le Pen fosse anti-semita, Bardella do recuou esta semana, admitindo que Le Pen “estava enredado num [tipo de] anti-semitismo”.

Adriana Peixoto, ZAP //

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