Em declarações aos jornalistas, na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, Pedro Passos Coelho apelidou de “conto de crianças” a ideia de que “é possível um que um país, por exemplo, não queira assumir os seus compromissos, não pagar as suas dívidas, querer aumentar os salários, baixar os impostos e ainda ter a obrigação de, nos seus parceiros, garantir o financiamento sem contrapartidas”.
“É sabido que o programa do partido que ganhou as eleições é difícil de ser conciliado com aquilo que são as regras europeias. O meu desejo é que seja possível conciliar, porque nós reconhecemos o enorme esforço que os gregos fizeram e esperamos que a Grécia se possa manter como um parceiro europeu da mesma moeda e da União Europeia. É esse o meu voto sincero”, acrescentou o chefe do executivo PSD/CDS-PP.
Passos Coelho disse esperar que o novo Governo grego “exerça nas suas competências tudo o que está ao seu alcance para conciliar as necessidades de crescimento que a Grécia tem com a necessidade também de cumprir as regras – que são regras que não foram desenhadas especialmente para a Grécia, são regras que são válidas para todos os países europeus”.
O primeiro-ministro português defendeu que, “sem essas regras, a Europa desintegra-se”, excluindo a via do seu incumprimento: “Isso não existe. Se existisse, não havia nenhum Governo que não seguisse esse caminho. Esse caminho não está disponível para a Grécia, como não está disponível para nenhum outro”.
Apontando a Grécia como “caso único que se tem evidenciado”, e assinalando que Portugal e Irlanda concluíram os respetivos programas de resgate, Passos Coelho discordou da ideia de que se pode estar a abrir um novo capítulo na União Europeia contra a austeridade.
“A troika não pede para ir aos países, a troika é uma solução institucional entre o Fundo Monetário Internacional (FMI) e os países europeus que canalizam dinheiro de apoio a países que necessitam dele”, contrapôs, referindo que “em Portugal, por exemplo, foi o Governo português que chamou a troika”.
O chefe do executivo PSD/CDS-PP argumentou ainda que “a Europa não tem seguido políticas de austeridade ou deixa de seguir”, o que acontece é que há países europeus que “precisam de corrigir as suas situações de desequilíbrio orçamental”.
No caso grego, segundo Passos Coelho, houve “progressos que são importantes, e representaram um esforço muito grande que o povo grego foi fazendo “, mas apesar disso “foi preciso fazer um segundo programa” e “não se tem a certeza ainda de que um terceiro não venha a ser necessário”.
“A Grécia terá um novo Governo e precisará, junto das instituições financeiras, junto da troika – isto é, dos representantes dos países europeus e do Fundo Monetário Internacional (FMI) – fechar o seu programa e conseguir atingir os seus objetivos. Saber como é que vai fazer isso, depende do próprio Governo, como é evidente”, concluiu.
De acordo com o primeiro-ministro português, “ninguém impõe aos governos seja o que for, os países escolhem os seus caminhos“, mas “o que não podem é impor aos outros unilateralmente as suas condições”.
Alexis Tsipras tomou posse esta segunda-feira como primeiro-ministro da Grécia após a vitória nas eleições legislativas de domingo do seu partido, o Syriza, que acordou uma aliança de governo com os nacionalistas Gregos Independentes.
O Syriza conquistou 36,34% dos votos nas eleições de domingo, ganhando 149 lugares no Parlamento, menos dois do que o necessário para ter a maioria absoluta. Os Gregos Independentes, partido da primeira coligação anunciada pelos vencedores, obtiveram 4,75% dos votos, conquistando 13 deputados.
/Lusa