Dez mulheres foram infetadas pelo Zika e os cientistas não podiam estar mais felizes

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O Aedes aegypti pode transmitir três doenças: Zika, dengue e chikungunya

Investigadores da Universidade Johns Hopkins realizaram um estudo inédito, expondo deliberadamente 20 mulheres ao vírus Zika.

Esta experiência pode ser a chave para acelerar o desenvolvimento de uma vacina contra o Zika, que nos últimos anos tem sido dificultado pela raridade do vírus.

Tradicionalmente, os criadores de vacinas realizam ensaios clínicos em grande escala para avaliar a eficácia da vacina, inscrevendo milhares de participantes, vacinando alguns e fornecendo um placebo a outros, e monitorizando a sua exposição ao vírus no mundo real.

O sucesso desta abordagem depende em grande medida da frequência das infeções na população estudada. Por exemplo, no caso da COVID-19, os criadores da vacina obtiveram resultados rápidos porque o vírus estava muito disseminado. Mas quando uma doença é tão pouco frequente como o Zika, provar a eficácia de uma vacina através deste método torna-se um desafio.

O Zika, transmitido principalmente por mosquitos, causa frequentemente infeções ligeiras ou assintomáticas em adultos. No entanto, quando uma mulher grávida contrai o vírus, este representa um risco significativo para o feto em desenvolvimento, podendo levar a defeitos congénitos graves, como a microcefalia.

Em 2017, o número de casos de Zika tinha diminuído, explica o site Freethink, tornando improvável que os ensaios de vacinas tradicionais reunissem dados suficientes para obter aprovação. Com o Zika ainda a representar uma ameaça epidémica significativa, a urgência de desenvolver uma vacina continuou a ser uma prioridade de saúde pública.

Ensaios como o realizado pela Johns Hopkins surgiram como solução. Estes ensaios expõem intencionalmente os participantes a um vírus num ambiente controlado, acelerando o desenvolvimento de vacinas, especialmente para vírus com baixas taxas de infeção natural como o Zika.

Os investigadores da Universidade Johns Hopkins dividiram 20 mulheres não vacinadas em dois grupos, cada um exposto a uma estirpe diferente de Zika, enquanto outros oito receberam um placebo.

Tal como previsto, nenhuma das participantes do grupo do placebo contraiu Zika, enquanto todas as mulheres dos grupos expostos ficaram infetadas. Felizmente, os sintomas foram ligeiros e temporários, com 95% a desenvolver erupções cutâneas e 65% a sentir dores nas articulações.

As participantes concordaram em permanecer num centro de investigação até deixarem de ser infecciosas, o que demorou entre 9 a 16 dias, e receberam cerca de 5 mil dólares pela sua contribuição.

No entanto, mesmo que estes ensaios sugiram a eficácia da vacina, os criadores terão de efetuar estudos de maior dimensão que envolvam milhares de pessoas para garantir a segurança da vacina.

A Universidade Johns Hopkins está atualmente à procura de participantes masculinos para um segundo estudo de desafio ao Zika, que irá investigar a persistência do vírus Zika no sémen, abordando potencialmente as preocupações sobre a transmissão sexual.

Os resultados desta investigação foram publicados este mês na conceituada revista científica Nature.

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