Já foram 100, já foram quase 1.000. Agora há pouco mais de 600 alunos registados no ensino doméstico em Portugal.
Continua a soar estranho para muitos pais, mas há alunos que nunca vão à escola em Portugal. Mas aprendem na mesma.
O Ensino Doméstico tem 623 alunos (crianças e adolescentes) inscritos no país. A maioria vive na Área Metropolitana de Lisboa, avança o Diário de Notícias.
Os pais optam por este caminho porque, na generalidade dos casos, não concordam com o modelo de ensino que ainda se verifica em Portugal, “dos tempos da outra senhora”.
Neste sistema diferente o ritmo é outro, os testes ou exames desaparecem, a campainha também. O professor é a mãe ou o pai.
Anabela Cordeiro tem duas crianças (9 e 4 anos): “Desde que pensei em ter filhos sabia que não queria vê-los enclausurados num edifício que, na maioria das vezes, tem grades à volta. Como se fosse uma prisão“.
“Para não cair na tentação de seguir um ‘guião’, nos anos anteriores nem sequer fui levantar os manuais”, acrescenta.
O seu filho mais velho, quando chegou ao momento de entrar no ensino primário, sabia ler melhor do que qualquer outra criança local da sua idade.
A mãe ainda tentou criar uma comunidade de aprendizagem na aldeia onde vive – a falta de entusiasmo dos outros pais originou a sua desistência.
É uma “louca”, dizem familiares, vizinhos e amigos. Porque os filhos nunca vão à escola. Mas Anabela reage: “Sei que estou a fazer o melhor por ele (filho de 9 anos), respeitando e estimulando a criatividade e a formação a diversos níveis”.
A mãe não hesita em criticar o ensino nas escolas portuguesas: “O sistema de ensino está completamente desajustado, é castrador. À criança é imposto que aprenda o que o professor quer. No fundo, está a dizer-lhe que não tem outra capacidade”.
Anabela Cordeiro acrescenta que a escola actual é muito parecida com a escola da época da Revolução Industrial: “A ideia, na altura, era formar gente que fosse capaz de entrar numa linha de produção. Até a própria campanha simboliza isso. Hoje precisávamos de uma escola com liberdade de movimentos e de pensamento”.
Neste método caseiro, há viagens de comboio pelo país, visitas aos monumentos, idas às compras – e tudo se enquadra em Matemática, História, Geografia ou Ciências.
E, acredita, a grande diferença está na liberdade individual do seu filho: “Uma criança só aprende quando se apaixona. E a primeira paixão é a família. Por isso, partimos da árvore genealógica. Quando ela sente que tem o seu lugar e está segura, tudo é mais fácil”.
Em 2013 o número de alunos no Ensino Doméstico em Portugal não chegava a 100. Em 2020, primeiros tempos da pandemia, eram quase 1.000. Mas no ano seguinte passou a ser obrigatório que mãe ou pai sejam licenciados; desde então os números foram descendo até aos actuais 623 oficiais (mas muitos alunos que moram em Portugal estarão matriculados nos países de origem).