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Quão longe está Lisboa?

Uma obra para refletir. Não é (só) no concreto que Lisboa está distante. É, principalmente, no abstrato. As desigualdades aumentam cada vez mais. O coletivo Unidigrazz mostra a “distância maior” que separa Lisboa das periferias.

O coletivo Unidigrazz mostra, numa exposição que é inaugurada, em Lisboa, esta sexta-feira, que a distância que separa Algueirão-Mem Martins, na linha de Sintra, do centro da capital portuguesa é muito mais do que a meia hora da viagem de comboio.

Em “Distante”, que estará patente na Galeria Underdogs, o coletivo propõe que as pessoas reflitam sobre uma distância que pode ser medida em minutos – os 33 que o comboio demora a fazer a ligação entre a estação de Algueirão-Mem Martins, de onde o coletivo é originário, e a do Rossio, na Baixa de Lisboa -, mas que “representa muito mais do que isso”.

Rodrigo Faria, produtor do coletivo, salientou, em declarações à agência Lusa, as muitas “divisões, realidades contrastantes e destinos, muitos deles desiguais”, que se encontram nesse percurso.

A “distância” prevalece

O coletivo Unidigrazz nasceu em 2018 e junta vários jovens, com idade média de 26 anos, que nasceram, cresceram e vivem na freguesia de Algueirão-Mem Martins, uma das mais populosas de Portugal.

A face visível do coletivo são cinco artistas, de várias áreas: Diogo “Gazella” Carvalho, Onun Trigueiros, Rappepa bedju tempu, Sepher AWK e Tristany.

Segundo Rodrigo Faria, o coletivo Unidigrazz “expressa artisticamente esta zona [Algueirão-Mem Martins], esta margem que está à volta de Lisboa, nestas cidades periféricas onde as desigualdades prevalecem e muitas vezes continuam invisíveis”.

Nas obras que desenvolvem, os aristas não ficcionam, criam apenas inspirados no que está no seu quotidiano.

Em “Distante”, o coletivo apresenta trabalhos em desenho, pintura e técnica mista, que retratam “questões sociais, culturais, questões que estão muito presentes, como a violência policial ou problemas que existem a nível da mobilidade”.

Ao abordarem estes temas, os elementos de Unidigrazz não estão a “cumprir nenhuma agenda”, mas apenas a “apresentar a realidade que estes artistas e as pessoas nos contextos onde eles vivem sofrem diariamente com essas questões”.

“Vimos pôr no nosso trabalho, a nossa forma de estar, a nossa forma de ver a arte, a nossa forma de criar, através do distante, porque é isso que ainda sentimos. É uma distância muito presente, principalmente para quem vive na periferia. Uma pessoa que nasce e vive aqui sente esta distância simplesmente ao ir à cidade”, referiu Rodrigo Faria.

O que é a “distância”?

“A distância não é só o tempo que demoramos num sítio ou outro, mas também as realidades diferentes que existem entre eles”, reiterou Rodrigo Faria.

A viagem, que pode ser até à estação do Rossio, mas também de Roma-Areeiro, Sete Rios ou Entrecampos, “por vezes parece breve, de comboio, mas vem carregada de significado, revelando profundas divisões entre estas realidades. E nós queremos trazer essa discussão, queremos trazer essa reflexão”, reforçou.

Os cinco artistas do Unidigrazz “ainda não vivem” da sua arte, mas o objetivo é que tal venha a acontecer e que, com “consigam também inspirar outros a viver da mesma”.

O coletivo também pretende “influenciar que se criem espaços, pólos culturais para dar palco aos jovens e à cultura que existe” na linha de Sintra.

“Infelizmente temos sempre que estar a ir à cidade mostrar o nosso valor. Infelizmente a cidade tem de validar o valor da periferia, e isso também é a distância que nós vivemos”.

Além das vivências juntos, foi também “o facto de não haver um investimento a nível cultural” que os levaram a unir-se e a “começarem a construir trabalho conjunto”.

ZAP // Lusa

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