Reconstruído “monstro fóssil” com 3 olhos que viveu há 520 milhões de anos

(dr) X. Wang

Reconstrução artística do Kylinxia.

Um estudo realizado por cientistas da Universidade de Leicester e do Yunnan Key Laboratory for Palaeobiology utilizou uma tecnologia avançada de digitalização para reconstruir um “monstro fóssil” de três olhos.

Esta reconstrução pioneira forneceu novos detalhes sobre uma criatura fossilizada única que viveu há cerca de 520 milhões de anos, potencialmente colmatando lacunas na nossa compreensão da evolução dos artrópodes.

Os mesmos cientistas já tinham documentado este artrópode num estudo anterior, em 2020. Inicialmente, os investigadores até pensavam que ele teria cinco olhos.

Kylinxia, nome pelo qual foi batizado, foi meticulosamente fotografado com um scanner de TAC, revelando a sua anatomia preservada numa rocha antiga. O Kylinxia tem várias características distintivas, incluindo três olhos na cabeça e dois membros presumivelmente utilizados para caçar. Em termos de tamanho, é comparável a um camarão grande.

Os fósseis em análise foram recolhidos perto de Chengjiang, no sul da China. Este local é conhecido pela sua riqueza em animais fossilizados bem preservados, com mais de 250 espécies distintas.

Esta descoberta tem um grande significado para melhorar a nossa compreensão do desenvolvimento dos artrópodes. Os artrópodes são criaturas caracterizadas por corpos segmentados, com a maioria apresentando dois membros articulados, incluindo caranguejos, lagostas, insetos e aranhas.

Embora o registo fóssil contenha numerosos artrópodes, nomeadamente trilobites, a maioria destes espécimes apresenta esqueletos rígidos preservados. O Kylinxia, por outro lado, destacou-se devido à preservação quase completa da sua anatomia mole, sublinha o Tech Explorist.

Imagens pormenorizadas da cabeça do Kylinxia revelaram seis segmentos, com o primeiro segmento a albergar os olhos, o segundo equipado com um par de membros e os restantes quatro segmentos com um par de membros articulados.

“Após a TAC, podemos virá-lo digitalmente e olhar para a cara de algo vivo há mais de 500 milhões de anos. Quando rodámos o animal, pudemos ver que a sua cabeça tinha seis segmentos, tal como a de muitos artrópodes vivos”, explicou Robert O’Flynn, autor principal do novo estudo.

Greg Edgecombe, do Museu de História Natural, salientou o facto de estas descobertas desafiarem as teorias anteriores sobre a evolução da cabeça dos artrópodes: “A descoberta de dois pares de pernas anteriormente não detetados em Kylinxia sugere que os artrópodes vivos herdaram uma cabeça de seis segmentos de um antepassado há pelo menos 518 milhões de anos”.

O novo estudo foi publicado em agosto na revista Current Biology. O estudo precedente foi publicado em novembro de 2020, na revista Nature.

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