“Não acredito numa palavra”. Heisenberg não tinha a certeza de que Hiroshima tivesse acontecido

German Federal Archives / Wikipedia

O físico alemão Werner Heisenberg

A corrida pelo desenvolvimento da bomba atómica durante a Segunda Guerra Mundial é um capítulo fascinante e complexo da história da humanidade.

Com a descoberta da fissão nuclear em 1938 pelos químicos alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann, a possibilidade de utilizar essa energia imensa para fins militares tornou-se iminente.

O programa nuclear alemão, Uranverein, foi um dos primeiros esforços para criar uma arma nuclear, apoiado pela indústria e pelo interesse militar da Alemanha nazi.

E terá sido o medo de uma super arma secreta nazi, recorda a Deutsche Welle, que levou os Estados Unidos a iniciar o seu próprio programa, o Projeto Manhattan.

A notoriedade e a celeridade com que o projeto norte-americano avançou — e atingiu o sucesso — contrastam com o falhanço do esforço alemão.

Embora o projeto alemão tivesse tido um começo promissor, liderado por cientistas brilhantes como Werner Heisenberg, uma série de fatores levou ao declínio do programa Uranverein.

Em primeiro lugar, a fuga de cientistas influentes devido à perseguição nazi, como Albert Einstein e Lise Meitner, privou o projeto de conhecimento vital. Terá aliás sido Einstein, em 1939, a alertar o presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, do programa alemão — e a despoletar o projeto Manhattan.

Além disso, alguns dos recursos necessários, como urânio enriquecido e água para arrefecer reatores nucleares, tornaram-se escassos.

A produção de água pesada na Noruega ocupada, um ingrediente-chave para os reatores, foi atacada por forças aliadas, frustrando ainda mais os esforços alemães.

No entanto, a falta de apoio político foi talvez o fator mais determinante no fracasso do projeto alemão. Hitler, que não compreendia completamente o projeto, cortou o apoio em 1942.

A falta de recursos, em comparação com o enorme investimento americano de cerca de 2 mil milhões de dólares, fez estagnar o progresso alemão.

Em contrapartida, o Projeto Manhattan dos EUA avançou a um ritmo vertiginoso. Liderado por J. Robert Oppenheimer, o projeto culminou no teste bem-sucedido da primeira arma nuclear da história e no bombardeamento de Hiroshima.

Ironicamente, o projeto alemão esteve perto de ser bem sucedido.

Em 1942, o programa nuclear alemão foi cancelado por Adolf Hitler, que não o compreendia. Mas, se os alemães tivessem tido mais urânio disponível, as experiências realizadas em Haigerloch, sob a liderança de Heisenberg, poderiam ter resultado no primeiro reator nuclear.

Após o falhanço do seu projeto, os físicos nucleares alemães ficaram incrédulos ao saberem que os norte-americanos tinham lançado uma bomba atómica sobre Hiroshima — o que mostra quão distante estavam de criar uma arma nuclear.

A maior parte dos cientistas alemães acreditava que tudo não passava de um bluff para levar o Japão à rendição. “Não pensei que fosse possível desenvolver a bomba atómica nos próximos vinte anos”, afirmou na altura Otto Hahn.

A reação de , líder do projeto nuclear alemão, foi mais taxativa. “Não acredito numa palavra de tudo isso“, disse o conceituado físico ao ouvir relatos do bombardeamento de Hiroshima, na altura preso numa quinta britânica, depois de ter sido capturado após a derrocada da Alemanha nazi.

No entanto, esta incerteza de Heisenberg durou pouco tempo. Três dias mais tarde, a 9 de agosto de 1945, os norte-americanos lançaram uma segunda bomba atómica, sobre Nagasaki.

Entre as mortes causadas diretamente pela explosão das duas bombas e as resultantes dos efeitos da radiação nuclear que seguidamente cobriu as duas cidades, estima-se que até 246 mil pessoas tenham perdido a vida.

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