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Indiana em greve de fome há 14 anos denuncia abusos em região esquecida

Irom Sharmila Chanu / Flickr

Irom Sharmila Chanu, em greve de fome há 14 anos

Irom Sharmila Chanu, em greve de fome há 14 anos

Este mês de janeiro, pode acontecer que alguns indianos façam uma pausa para reflectir sobre o extraordinário poder de uma mulher que se recusa a comer, afirma a historiadora feminista Uma Chakravarti. Mas entender este protesto pode ser a chave para compreender muito do que aflige a Índia.

Que definição do Estado, do país e da sociedade em que vive pode ser mais determinante para uma mulher, do que ser presa simplesmente por se recusar a comer?

Embora poucos indianos pareçam estar preocupados com o destino de Irom Sharmila Chanu, para a historiadora feminista Uma Chakravarti ela é uma mulher que representa um conjunto essencial de valores.

Sharmila iniciou a sua greve de fome em 2000 para protestar contra uma lei controversa no Estado de Manipur, no noroeste do país, que deu às Forças Armadas indianas amplos poderes.

Estes poderes permitiram que as forças armadas prendessem pessoas sem mandato e até mesmo atirassem a matar em determinadas situações.

O Estado distante tem sido muito afectado pela violência insurgente, e os rebeldes separatistas vêem a Índia como uma potência colonial.

Os rebeldes certamente foram responsáveis por mortes. Mas esta lei, argumenta Sharmila, trata efectivamente uma parte da Índia como uma zona de guerra.

Sharmila foi presa logo após o início do seu protesto. Durante 14 anos, sob custódia num hospital, foi forçada a alimentar-se através de um tubo introduzido pelo nariz.

O ano passado, um tribunal rejeitou a acusação de “tentativa de cometer suicídio” e ordenou a sua libertação, mas foi novamente detida pouco depois.

prachatai / Flickr

A activista Irom Sharmila Chanu protesta contra uma lei que dá direitos excepcionais às forças armadas indianas

A activista Irom Sharmila Chanu protesta contra uma lei que dá direitos excepcionais às forças armadas indianas

Todo os anos, no mês de janeiro, ocorre o ritual legal da sua detenção e libertação. Esta semana, aconteceu de novo.

O ritual é mencionado nas notícias e rapidamente esquecido. Mas Uma Chakravarti garante que não o vai esquecer, muito menos depois de ter conhecido a mãe de Sharmila.

Mãe

A simplicidade e tristeza da mãe da activista reforçou, para Chakravarti, o quanto a situação é trágica.

“Um dia eu estava sentada a ouvir as notícias e um porta-voz das autoridades disse que a lei que dá poderes especiais às Forças Armadas nunca iria ser anulada”, conta a Chakravarti a mãe de Sharmila.

“Naquele dia, senti-me muito triste e deprimida. E disse a mim mesma: isto significa que a minha filha nunca mais vai comer“, diz a senhora.

Para Chakravarti, a mãe de Sharmila é um ícone, uma mãe que não vai ver a filha porque sabe que vai chorar e não quer que a determinação de Sharmila seja abalada.

Irom Sharmila é uma mulher que defende uma forma diferente de organizar o mundo e actua pelo que defende. “O seu protesto é incrível, na sua simplicidade e coragem”, conta Chakravarti à BBC.

Segundo a historiadora, Sharmila prefere ser privada dos princípios básicos na vida do que reconhecer o sistema sob o qual vive. “O Estado acha que não há crise, porque eles são a força que a alimenta e a mantém viva”.

Mas o corpo da activista apenas é sustentado pela injecção de um líquido – e todos sabem que isso não é vida, diz Chakravarti.

Sharmila tornou-se a personificação do princípio pelo qual está a lutar, e é criminalizada por fazer exactamente isso – há 14 anos.

ZAP / BBC

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