Acredita que já morreu? Tem uma síndrome rara — mas real

Penso, logo estou vivo. No entanto, algumas pessoas pensa que estão mortas — contrariando o famoso truísmo de Descartes.

A síndrome de Cotard, um raro distúrbio neuropsiquiátrico, afeta os pacientes causando-lhes distorções da perceção da realidade, levando-os frequentemente a acreditar que estão mortos — ou que são espíritos imateriais.

Esta condição pode originar graves problemas de saúde, como a auto-inanição, uma vez que os pacientes negligenciam as suas necessidades corporais, por pensarem que não existem.

Segundo o Science Alert, um caso particular documentado na literatura científica envolve uma mulher de meia-idade, com histórico de ansiedade e psicose, que começou a recusar comida e medicamentos. “Estou morta”, afirmava categoricamente a mulher em causa.

De forma semelhante, um outro caso de estudo envolveu um homem de 49 anos que começou a negligenciar a sua saúde física, por acreditar que já estava morto, e tratou de se desfazer dos seus bens pessoais, oferecendo-os a familiares e amigos. “Por que hei-de comer, se estou morto)”, perguntava um outro doente.

A síndrome foi identificada pela primeira vez em 1880 pelo neurologista francês Jules Cotard, que descreveu a condição como uma forma de depressão marcada por “melancolia ansiosa, ideias de condenação ou rejeição, insensibilidade à dor, delírios de inexistência do próprio corpo e delírios de imortalidade”.

Os cientistas acreditam atualmente que a síndrome de Cotard pode não ser uma doença única, mas sim um sintoma de condições subjacentes, como transtorno bipolar, esquizofrenia, depressão ou um histórico de uso de drogas ou convulsões.

Um estudo de revisão dos dados de Cotard, publicado em 2017 na revista Neuropsychiatry, permitiu concluir que quase 90% dos pacientes com a síndrome apresentam sintomas depressivos, e 65% mostram sinais de ansiedade.

Apesar das raras mas terríveis manifestações da síndrome de Cotard, há opções de tratamento: antipsicóticos, antidepressivos, psicoterapia e terapia eletroconvulsiva podem produzir resultados positivos.

Em alguns casos, os pacientes conseguiram recuperar do seu estado em apenas duas semanas com terapia farmacológica.

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