Esta estrela tem “duas caras”

Miller, Caltech / IPAC

Uma impressão de artista de Janus, uma estranha anã branca com duas faces distintas

Os astrónomos fizeram uma descoberta surpreendente que impressionou a comunidade científica: uma estranha anã branca com duas faces distintas.

As anãs brancas são núcleos queimados de estrelas mortas e possuem uma química comum. As suas atmosferas são, normalmente, constituídas por hidrogénio ou hélio, com o elemento principal a atingir níveis cerca de 1000 vezes superiores em relação aos restantes.

Recentemente, uma equipa de astrónomos fez uma descoberta que desafia este consenso: uma anã branca de duas faces distintas, sendo uma parte composta quase inteiramente por hidrogénio e a outra por hélio.

Segundo o Interesting Engineering, esta é a primeira vez que os cientistas descobrem uma anã branca com uma divisão tão clara. Por isso, foi apelidada de Janus, em homenagem ao Deus romano de duas faces.

A superfície da anã branca muda completamente de um lado para o outro”, disse Ilaria Caiazzo, autora principal do artigo científico, publicado na Nature. “Quando mostro as observações às pessoas, elas ficam maravilhadas.”

Janus foi descoberta com a ajuda do Zwicky Transient Facility (ZTF), um observatório concebido para detetar objetos no céu noturno que mudam de brilho ao longo do tempo.

A equipa reparou que esta anã branca variava o seu brilho à medida que rodava. Observações posteriores com um espetrómetro, que é capaz de analisar a luz para revelar os elementos que compõem a fonte, mostraram uma diferença acentuada na composição que se correlacionava com as mudanças de brilho.

A sua formação é um mistério, mas os astrónomos avançam algumas hipóteses. Uma delas pode estar relacionada com o facto de algumas anãs brancas fazerem a transição entre a predominância de hidrogénio e a predominância de hélio ao longo da sua vida, sendo que Janus pode ter sido a primeira a ser apanhada em flagrante.

No entanto, mesmo assim, os astrónomos não entendem por que motivo a anã branca alteraria uma face de cada vez.

A resposta pode dever-se ao seu forte campo magnético. Se for mais forte num lado do que no outro, pode impedir que o hidrogénio e o hélio se misturem nesse mesmo lado, deixando uma marca acentuada de hidrogénio.

Uma outra explicação poderia residir no facto de o campo magnético alterar a pressão e a densidade dos gases. “Os campos magnéticos podem levar a pressões de gás mais baixas na atmosfera, o que pode permitir a formação de um ‘oceano’ de hidrogénio onde os campos magnéticos são mais fortes”, explicou James Fuller, coautor do estudo.

Não sabemos qual destas teorias está correta, mas não conseguimos pensar em nenhuma outra forma de explicar os lados assimétricos sem campos magnéticos”, rematou o cientista.

Liliana Malainho, ZAP //

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