Um deserto, um gigante gelado e uma floresta. Nenhum Estado soberano quer reclamar estas terras devolutas, que juntas têm sensivelmente 17 vezes o tamanho de Portugal.
Num mundo cuja ordem é, em grande parte, assegurada pelo respeito às fronteiras dos países, ainda há enormes pedaços de terra que nenhuma nação quer para si.
É o caso de três lugares no nordeste africano, na Antártida e ainda nos Balcãs que, por diversas razões, pertencem até hoje apenas à mãe natureza.
Nenhum Estado soberano quer reclamar estas terras devolutas, que juntas têm sensivelmente 17 vezes o tamanho de Portugal.
“Patinho feio” alvo de mão britânica
Perto da fronteira entre o Egito e o Sudão está Bir Tawil, um pedaço de 2060 quilómetros quadrados que nenhuma destas nações pretende dominar.
Com temperaturas acima dos 45ºC no verão, Bir Tawill é um extenso deserto com zero habitantes, apesar de ser frequentado por tribos nómadas como os ababdas, grupo étnico do leste dos dois países fronteiriços.
A história deste território “patinho feio” tem, segundo os EUA, uma mão do Império Britânico. O Reino Unido terá chegado a um acordo com o Egito, em 1899, que determinou que todos os territórios a sul do paralelo no 22.º” pertenciam ao Sudão, colocando Bir Tawil sob controlo sudanês.
Mas um outro plano desenhado pelos britânicos, três anos mais tarde, colocou o território sob alçada egípcia, por ser frequentado por ababdas, cuja base ficava no Egito.
Bir Tawil foi rejeitado por ambos, uma vez que o Egito se rege pela fronteira de 1899 e o Sudão pela de 1902.
Depois de algumas disputas — como o caso louco de um residente de Virgínia que quis reclamar o território e declarar-se o seu rei para cumprir o desejo da filha de se tornar princesa —, Tawil mantém-se livre.
1,6 milhões de quilómetros quadrados devolutos
A Terra de Marie Byrd não é, na verdade, da mulher do oficial da Marinha americana Richard E. Byrd, Marie Byrd — nem de mais ninguém.
Apesar de sete países já terem “deitado as garras” a diversas partes da Antártida, aquele que é o maior território do mundo por reclamar, com mais de milhão e meio de quilómetros quadrados, continua sem pretendentes.
A leste da plataforma de gelo Ross, a sul do Oceano Pacífico, o território é especialmente isolado e difícil de aceder.
“Vive e deixa viver” na Europa
Entre quatro terras a oeste do Rio Danúbio não reclamadas por nenhum país, Gornja Siga é claramente a mais vasta, apesar de consistir em sete quilómetros de floresta.
A terra é no entanto cobiçada por algumas partes, cobiça posta em prática por um grupo de libertários do político checo Vìt Jedlicka, que lá colocou uma bandeira e proclamou o território um estado independente — Liberlândia, que não teria um sistema de impostos nem regulações estatais e assumiria como moeda… a bitcoin.
Jedlicka classifica o território de ‘nuillius terra‘, ou seja, terra de ninguém, que não é reclamada nem pela Sérvia nem pela Croácia — motivo que o levou a reclamá-la para instaurar o seu próprio estado. O território foi delimitado de forma a não colidir com as fronteiras dos dois países.
A micronação chama-se República Livre de Liberland. Define-se como uma “república constitucional com traços de democracia direta”.
A constituição de Liberland estabelece que toda a liberdade individual e económica é concedida aos cidadãos, limitando os poderes dos políticos. O lema do país é “Vive e deixa viver”.
No entanto, o sonho do político morreu cedo. As autoridades croatas não gostaram da sua ideia e têm prendido qualquer pessoa que pise o território, segundo a BBC.