Os nossos primos Neandertais usavam demasiado as mãos (e conhecemos as consequências)

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ZAP // Erich Ferdinand / Flickr

Homo neanderthalensis, o Homem de Neandertal

Um grupo de investigadores descobriu um Neandertal com uma condição humana bastante comum, a osteoartrite. É a primeira vez que este hominídeo é diagnosticado com esta patologia nas mãos.

Uma equipa de investigadores da Universidade de Aix-Marseille, liderada por Jean-Luc Voisin, descobriu ossos de um polegar de Neandertal numa caverna em França.

Após estudos preliminares, foi possível perceber que o dono deste polegar sofria de uma condição de saúde bem conhecida nos dias de hoje – osteoartrite.

De acordo com o novo estudo, publicado recentemente no International Journal of Paleopathology, é a primeira vez que tal condição é encontrada nos polegares dos nossos primos afastados.

Após uma análise às características patológicas do polegar, os autores do estudo sugerem que este distúrbio se pode ter desenvolvido como resultado de impactos repetidos e choques em pedras e rochas.

É possível que esta condição tenha deixado o hominídeo com dores fortes e o tenha tornado incapaz de realizar as tarefas diárias comum à época.

A osteoartrite está entre as doenças físicas mais comuns existentes em idosos nos dias de hoje. Também conhecida como artrose, é uma doença degenerativa das articulações que afeta principalmente as cartilagens, os ossos e os tecidos circundantes.

A osteoartrite ocorre quando a cartilagem que reveste as extremidades dos ossos se desgasta ao longo do tempo. A cartilagem desempenha um papel crucial uma vez que fornece uma superfície lisa e amortecedora nas articulações, permitindo um movimento suave e sem atrito.

Com o desgaste da cartilagem, há a fricção entre os ossos, o que causa dor, inchaço e rigidez.

De acordo com os autores do estudo, os ossos de Neandertais eram particularmente curtos, o que os torna suscetíveis à osteoartrite.

Uma tomografia computadorizada (TC) deste polegar com 125 000 anos revelou superfícies degeneradas e protuberância ósseas, características consistentes com o diagnóstico de osteoartrite.

“Até ao momento, a patologia descrita aqui é a única conhecida num polegar de Neandertal, apesar de a osteoartrite estar bem descrita nesta população de hominídeo”, afirmam os autores do estudo.

As condições que atualmente causam osteoartrite não são compatíveis com as causas que a possam ter provocado nos Neandertais. Fatores como a suscetibilidade genética, obesidade ou deficiência de vitamina C não se coadunam com aquilo que se sabe sobre o modo de vida deste hominídeo.

Neste sentido, os autores concluem que este caso particular de osteoartrite foi possivelmente causado por um “uso excessivo” das mãos.

“A osteoartrite pode ter sido agravada pela idade avançada do indivíduo e por uma reação inflamatória causada por movimentos repetidos e vibrações intensas, provocadas pela utilização excessiva das mãos e, inclusive, do polegar”, explicam os investigadores.

“Outras atividades repetitivas, como a curtição de peles de animais, também podem levar ao desenvolvimento de osteoartrite. No entanto, é difícil determinar que atividades poderão estar na origem desta patologia” afirmam.

Apesar da impossibilidade de determinar com exatidão a causa da doença, os autores explicam que a osteoartrite no polegar causou “dor significativa” e “dificultou as tarefas diárias desempenadas por este indivíduo Neandertal”.

As evidências de osteoartrite em Neandertais fornecem informações valiosas sobre a saúde, estilo de vida, atividades diárias e capacidade de adaptação a condições físicas adversas por parte deste hominídeo.

Estas descobertas arqueológicas ampliam o nosso conhecimento sobre estas espécies humanas antigas que, de alguma forma, contribuíram para que chegássemos aqui hoje.

Patrícia Carvalho, ZAP //

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