Há uma praga misteriosa que está a paralisar papagaios na Austrália.
O lóris arco-íris – rainbow lorikeets – é uma espécie de papagaio muito comum na costa leste australiana, de onde é proveniente.
Este tipo de papagaio está para os quintais australianos como os pardais estão para os quintais portugueses.
Além disso, é também comum encontrar lóris arco-íris nas florestas tropicais e em matas costeiras.
O lóris arco-íris é um papagaio de porte médio, que mede entre 25 cm e 30 cm, e tem um peso que varia de 75 g a 157 g.
Sob um ponto de vista estético, os lóris arco-íris são bastante aprazíveis e costumam dar boas fotografias… não pela sua forma e feitio, nem pelas suas bonitas cores…
Grande parte dos lorikeets arco-íris dão boas fotografias porque, infelizmente, são afetados por uma doença misteriosa, que faz com que não se consigam mexer.
Cerca de 40% dos papagaios que apresentam um caso grave desta paralisia rara não sobrevivem. Os que conseguem sobreviver, têm um processo de reabilitação que pode levar meses.
Não conseguirem mexer o corpo; não piscarem os olhos; as asas vacilarem quando tentam (e não conseguem) voar: é com estes sintomas que ficam os milhares de lóris arco-íris que são afetados pela chamada síndrome de paralisia do lorikeet (LPS).
Os casos de LPS têm aumentado na última década, sendo já uma das principais doenças da vida selvagem australiana.
Apesar disso, os cientistas ainda não conseguiram descobrir a(s) causa(s) da doença.
O cientista Claude Lacasse, do RSPCA Wildlife Animal Hospital, da cidade australiana de Brisbane, fez uma parceria com vários pesquisadores para tentar resolver o mistério.
David Phalen é professor de saúde e conservação da vida selvagem, da Escola de Ciências Veterinárias de Sydney, na Universidade de Sydney, e lidera juntamente com Claude Lacasse a pesquisa sobre o LPS.
Segundo o Scientific American, a hipótese que eles, para já, consideram mais plausível é que o LPS é causado por algo os pássaros comem, e que floresce ou frutifica entre o final da primavera e o início do outono – período em que os casos aumentam.
No entanto, os pesquisadores ainda não conseguiram decifrar que planta ou plantas podem estar envolvidas.
Afinal, o que ingerem estes papagaios?
Para tentar desvendar o mistério, a equipa criou um projeto de ciência cidadã, no iNaturalist – uma rede social para observações da biodiversidade.
Os investigadores pediram às pessoas que começassem a tirar fotos de lóris arco-íris quanto os vissem a alimentar-se de plantas (mais uma vez volta a não estar em causa a sua forma e feitio, nem a beleza das suas cores).
A ecologista molecular Rachele Wilson, pesquisadora adjunta da Universidade de Queensland, encontrou um artigo que Phalen e Lacasse escreveram e percebeu que podia contribuir para a pesquisa, através da técnica DNA metabarcoding.
Essa técnica envolve o teste de DNA de excrementos de pássaros doentes, para combiná-lo com “códigos de barras” de DNA de plantas específicas.
A cientista combinou os dados com as observações do iNaturalist.
A conclusão é que as aves estão a alimentar-se de mais de 130 espécies de plantas, pelo menos 30 das quais são potencialmente tóxicas.
Os pesquisadores estão agora a trabalhar num estudo com amostras de outros 40 pássaros afetados por LPS e a compará-las com excrementos de lóris saudáveis.
Além disso, os pesquisadores estão a analisar o DNA de fungos, bactérias e animais, para estudar a possibilidade de as aves estarem a ingerir algum inseto venenoso ou alguma toxina produzida por fungos ou bactérias das plantas.
“É possível que não sejam as próprias plantas, mas um patogénico vegetal”, confessou Rachele Wilson, citada pelo Scientific American.
É possível que as alterações climáticas também possam ter influência, ao levar os papagaios a procurar outras fontes de alimento.
Doença rara, mas (talvez) não exclusiva
As raposas-voadoras são um tipo de morcego frugívoro – cuja dieta alimentar é composta essencialmente por fruta – também muito comum na Austrália.
Muitos desses animais têm vindo a ser encontrados com sintomas idênticos aos da LPS.
“Os morcegos são os lóris da noite”. É assim que são descritas as raposas-voadoras por Jane Hall, responsável pelo projeto de saúde da vida selvagem na Taronga Conservation Society Australia, uma organização sem fins lucrativos cujos especialistas estão envolvidos na pesquisa da LPS.
“O que os lóris estão a ingerir durante o dia os morcegos estão a ingerir durante a noite. Portanto, é realmente curioso que os morcegos apresentem sinais clínicos semelhantes”, disse a cientista.
As raposas-voadoras alimentam-se de mais de 100 espécies de plantas nativas.
“Se houver alguma relação entre o que as raposas voadoras [doentes] e os lóris andam a comer, podemos ter outra pista sobre o que pode estar a acontecer”, prevê David Phalen.
O cientista espera que todas as informações recolhidas pelas equipas de investigação se comecem a fundir e que, rapidamente, seja encontrada uma explicação para que tantos lóris arco-íris sejam tão fotogénicos.
Pesquisar radiação eletromagnética pode ser uma pista…