As taxas de juro anteriores é que eram “anormais” mas os bancos “não têm sido correctos”. Análises do novo director da FEP.
O Estado português recolhe dinheiro mas depois não o utiliza da melhor forma.
Este foi um dos vários avisos e reparos dados por Óscar Afonso, o novo director da Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
“Notamos isso, por exemplo, quando ‘a economia está melhor, mas as pessoas não estão melhores’. Ficariam melhor se a economia, em vez de 2%, crescesse a 4% ou 5%. Mas para isso é preciso melhorar a competitividade“.
Nesta entrevista ao Eco, o responsável pela faculdade portuense salientou que em Portugal a carga fiscal é “enorme” e a dívida pública continua a aumentar, sobretudo por causa da subida das taxas de juro.
Por isso, deixou um aviso claro: “Ainda por cima agora, com o aumento das taxas de juro, tão cedo as pessoas não vão ficar melhor. Não se iludam“.
Ainda sobre as taxas de juro, Óscar Afonso analisa: “É verdade que estas são as taxas normais, o que tínhamos antes é que era uma anormalidade“. Mas considera que os bancos estão a ter uma “margem muito significativa. Acho que não estão a ser correctos e deviam ter mais atenção a esse facto”, completou.
Num país com poder “muito concentrado” e que cria “pouco valor”, o tecido económico torna-se “pouco produtivo”. Gastamos “muito dinheiro” a formar pessoas que depois emigram.
“Nas defesas de dissertações de mestrado, grande parte deles dizem-me ‘agora já posso ir embora’”, confessou.
Aproveitando esta questão da fuga de talentos, o director da FEP destaca que os bons resultados são temporários e reforça: o PIB em Portugal deveria crescer mais do que está a crescer.
“É uma desgraça crescer tão pouco com a quantidade tão significativa de fundos que temos recebido e com o endividamento que temos. O peso da dívida pública condena o país a uma austeridade permanente, por via da carga fiscal. Por isso é que as pessoas não estão melhores”, disse.
Para dar a volta a esta situação, Óscar Afonso sugere maior crescimento, menos impostos, “porque muita gente não emigraria se o IRS fosse mais baixo” e assim haveria menos emigrantes e mais investimento das empresas – se a taxa de IRC fosse menor. Ia demorar anos, mas seria “mais sustentável”.
Em relação à própria FEP, está “relativamente bem” no que diz respeito ao ensino. Mas há algo a melhorar: os alunos saem da Asprela bem preparados “mas precisam mais de sentir que são bons”. Ou seja, é preciso melhorar a “auto-estima” dos alunos da FEP.