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Pesadelo ambiental deixa milhões à espera de automóvel na China

Milhões de chineses já compraram o seu primeiro automóvel e milhões de outros gostariam de fazer o mesmo, mas muitos deles terão de esperar meses ou anos para poderem concretizar esse sonho.

Devido ao aumento da poluição e do congestionamento do trânsito, Pequim, Xangai e seis outras grandes cidades decidiram limitar a venda de automóveis.

A última a adotar essa medida foi Shenzhen, uma próspera Zona Económica Especial, adjacente a Hong Kong.

A partir da próxima segunda-feira, o município de Shenzhen concederá apenas 100.000 matrículas por ano. A maior parte, 60.000, será atribuída numa lotaria, e as restantes serão leiloadas.

Shenzhen tem 3,14 milhões de veículos particulares e apenas 1,04 milhões de lugares de estacionamento, argumenta a Comissão Municipal de Transportes.

Pequim foi a primeira cidade chinesa a impor aquele drástico condicionamento, em janeiro de 2011. No mês anterior, todos os dias havia, em média, mais 1.900 automóveis novos nas ruas da capital.

Nos últimos sete anos, o número de automóveis em Pequim quase duplicou, atingindo 5,44 milhões no final de 2013, mas o “boom” não foi acompanhado por um crescimento simétrico das áreas de estacionamento e de circulação.

Sede de um município com 21 milhões de habitantes, Pequim passou a atribuir apenas 240.000 matrículas por ano e espera agora que o seu parque automóvel não exceda os seis milhões de veículos em 2017.

Cantão, Shijiazhuang, Hangzhou, Guiyang e Tianjin já adotaram um sistema idêntico. Chengdu, Wuhan, Chongqing e Qingdao ponderam seguir o mesmo caminho, adianta a imprensa oficial.

No início da década de 1990, a bicicleta era o único meio de transporte privado a que a esmagadora maioria das famílias chinesas podia aspirar. Só em Pequim havia cerca de oito milhões.

Segundo estatísticas do ministério da Segurança Publica, em novembro passado, a China – o país mais populoso do mundo, com cerca de 1.350 milhões de habitantes – tinha 244 milhões de pessoas com carta de condução e 154 milhões de automóveis.

Entre a população com mais de 60 anos, o número de encartados aumentou 38 vezes na última década: nem todos tencionarão começar a conduzir na idade da reforma, mas como é obrigatório ter carta de condução para concorrer ao sorteio das matrículas, sempre aumentam as possibilidades da família poder comprar um automóvel.

Peritos chineses estimam que mais de 50 cidades do país tem “graves problemas de congestionamento de trânsito”, o que no caso da capital se traduz num custo de 70.000 milhões de yuan (quase 7.000 milhões de euros) por ano.

De acordo com um estudo de um instituto de investigação da Beida (Universidade de Pequim), 80% daquele valor corresponde ao tempo gasto no trânsito, 10% diz respeito à gasolina e o restante entra na conta dos prejuízos ambientais.

Os automóveis são também apontados como a fonte de um quarto dos gases que poluem a atmosfera de Pequim.

Desde os Jogos Olímpicos de 2008, todos os veículos param um dia por semana, consoante o último número da respetiva matrícula, mas a qualidade do ar em Pequim cai frequentemente na categoria de “altamente poluída”.

A densidade de índice de particulares PM2.5, as mais suscetíveis de se infiltrarem nos pulmões, excede muitas vezes os 200 microgramas por metro cúbico, muito acima do máximo de 25 ou 35 definido pela Organização Mundial de Saúde.

Em menos de uma geração o antigo “Reino das bicicletas” tornou-se o maior mercado automóvel do mundo, num “milagre” sem precedentes na História moderna e com um custo ambiental que parece também inédito.

/Lusa

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