Momento inesperado (e criticado por colegas) antes do Prémio Camões. Chico Buarque, emocionado: “Tenho sempre uma porta entreaberta em Portugal”.
O Prémio Camões 2019 foi entregue a Francisco Buarque de Hollanda. Só em 2023. Por causa de Jair Bolsonaro e por causa da pandemia.
Um atraso de quatro anos até ao dia 24 de Abril de 2023 – que ficou marcado por um atraso de mais de uma hora.
A cerimónia no Palácio Nacional de Queluz iria começar às 16 horas mas arrancou já depois das 17 horas.
O primeiro a falar foi Manuel Frias Martins, presidente do júri. Salientou que Chico Buarque cria músicas, histórias para adultos e crianças… Tudo faz parte do seu “universo criativo”, que tem uma “reserva de energia para recordar mágoas e contrariar a violência, a injustiça e o medo”.
“Chico Buarque escreve e dá voz ao que escreve, com representações da vida comuns a todos nós. Os seus poemas são abraços que unem a língua portuguesa”, elogiou, acrescentando: “Talvez esta entrega do prémio peque por tardia, mas não peca por imerecida”.
Seguiu-se Marcelo Rebelo de Sousa. O presidente da República começou por lembrar que Bob Dylan foi eleito prémio Nobel da literatura (em 2016). “Chico Buarque é parte integrante do nosso património comum, muitos poucos se comparam ao premiado. Quatro anos foi longa espera para concretizar uma evidência, mas este prémio diz respeito a todos os anos”.
Lula da Silva, o convidado mais interrompido por aplausos, teve outro foco: o facto de Jair Bolsonaro ter recusado assinar o diploma – uma assinatura necessária para entregar o Prémio Camões. “Foi um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira. Todos sabemos porquê”.
Já sobre o escritor e compositor: “Transformou amores, alegrias e lutas em património comum, sintetizou paixões. O que escreve é uma declaração de amor à língua portuguesa”.
O presidente do Brasil terminou com sorrisos: “Quando eu era pequeno, queria ser compositor, cantor e escrever peças de teatro e romances. Tal como você. Mas a minha mãe avisou-me: ‘Já nasceu um menino chamado Chico Buarque que vai ser o mais importante. Prepara-te porque vais ser presidente’”.
Chico Buarque apareceu emocionado junto ao microfone, com visíveis dificuldades para começar.
Rapidamente colocou outro momento de humor misturado com emoção, quando falou sobre a sua esposa Carol Proner: “Foi ela que me comprou uma gravata hoje de manhã, do outro lado da rua do hotel!”.
O premiado começou por falar sobre o seu pai, Aurélio Buarque de Holanda, essencial na sua formação em vários aspectos.
Chico não quer voltar a viver fora do Brasil mas sublinhou: “É sempre bom saber que tenho uma porta entreaberta em Portugal” – país que conheceu em 1966, quando ainda era estudante de arquitectura.
Comentou que tem gosto em ser reconhecido como compositor popular, apesar de todos os romances e todas as composições mais complexas.
Em relação aos quatro anos de atraso, novas críticas ao anterior presidente do Brasil, Jair Bolsonaro: “Já perguntava se se tinham esquecido de mim”.
“Quatro anos de Governo funesto duraram uma eternidade. Foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás. Aquele Governo foi derrotado nas urnas mas não nos podemos distrair porque a ameaça fascista existe, não só no Brasil”.
“Mas, pelo menos, teve a rara fineza de não sujar o meu diploma, deixando o seu espaço em branco para a assinatura do nosso presidente Lula”, finalizou.
Mário Laginha, ao piano, fechou a cerimónia.
Jornalista desesperada?
Ainda antes de a cerimónia ter começado, houve um momento inesperado (e invulgar em Portugal) quando Lula da Silva chegou ao Palácio Nacional de Queluz.
Os jornalistas não tinham autorização para falar com Lula, Marcelo ou António Costa antes da entrega do prémio.
Mas a jornalista da CNN que estava no exterior do espaço, Conceição Queiroz, não seguiu essa indicação: “Eu vou tentar aproximar-me… Senhor presidente! Senhor presidente! Ó senhor presidente! Senhor presidente!” – gritou a jornalista, que foi logo travada por seguranças.
Aliás, num primeiro momento parecia que era uma manifestante, até porque o barulho das pessoas presentes (no outro lado da rua) aumentou consideravelmente quando Lula saiu do carro.
Afastada pelos seguranças, a jornalista reagiu: “Não faça isso, não faça isso… Nós tentamos, tentamos. Deixe estar, deixe estar. Pensei que pudesse descer”.
E logo a seguir, num timbre que até parecia quase de choro ou desespero (não deu para ver a jornalista de frente, só ouvir), repetiu: “Ó senhor presidente…”.
Após indicação de Marcelo, Lula aproximou-se de Conceição Queiroz e explicou que não iria falar com os jornalistas antes da cerimónia.
“Vai tentar falar depois, é? Como é que se sente, senhor presidente? Como é que está? Está bem? Está satisfeito?”, questionou a jornalista da CNN – num tom que deixou dúvidas em relação à intenção das perguntas.
Tudo em directo.
A jornalista admitiu depois que “de facto, não era suposto” ter-se aproximado do presidente do Brasil “mas tentando, Lula da Silva acabou por dizer algumas palavras” – e só não diz mais por causa da segurança, alegou.
Ao mesmo tempo, na SIC Notícias falava-se numa “pequena confusão com uma jornalista”.
Mas na RTP 3 as palavras sobre este incidente foram outras: “Respeitámos o que nos foi dito (não aproximar do presidente do Brasil). Mas isso nem sempre acontece; uns respeitam, outros não”.
Mas que grande fantochada , os liberais/maçonaria (Sr.º Presidente da República, PS, CDS, BE, CH, L, IL, PAN, ADN, PCP, PSD) estão mesmo desesperados; só é pena o Sr.º Chico Buarque alinhar nesta mediocridade.
O que não têm o direito é de chamar à amizade (???) Marcelo, Lula, Costa AMIZADE LUSO BRASILEIRA, pelo menos enquanto não procurarem a opinião dos dois Povos.
Muito bem dito…
Me impressiona a distorção da divulgação da realidade brasileira… elogiar aquele que deixou o Brasil em frangalhos, a Petrobrás quase falida de tanto roubarem dela, fundos de pensões surrupiados, dezenas de delações premiadas, com devolução de bilhões de Reais (BRL) por agentes públicos e privados confessos e com provas do envolvimento direto de Lula e de seu partido PT. Como podem?!?! Bolsonaro não foi o melhor, mas Lula certamente foi o PIOR presidente que um país pode ter!