Obras clássicas de Roald Dahl, Ian Fleming e Agatha Christie foram reescritas. Afonso Reis Cabral relata caso seu, de cultura de “censura”.
Livros censurados? Só nos tempos do Salazar.
Nem por isso.
Nos últimos tempos têm-se acumulado casos que têm deixado comunidades de leitores em choque: reescrever livros. Alguns deles obras clássicas. Alterar palavras ou cortar frases inteiras.
Livros infantis, escritos por Roald Dahl, ganharam uma versão. A editora Puffin manteve as versões originais nas criou uma para “jovens leitores”. Com correcções, centenas de alterações aos textos originais: a palavra “gordo” passa a “enorme” e quem é “feio e burro” passa a ser apenas “burro”. E muitos outros exemplos.
Obras de Ian Fleming, responsável pelo famoso personagem James Bond, também foram alteradas. Descrições raciais foram apagadas, pilotos negros passaram a ser “ex-condutores”.
Mais recentemente, a criadora de Poirot. Agatha Cristie, a escritora recordista na venda de livros, se fosse viva veria os seus livros reescritos. Por causa de “leitores de sensibilidade”, certas descrições eventualmente ofensivas vão desaparecer.
As editoras seguem pedidos de uma “fatia” de um público activista, influente nas redes sociais, que querem “mudar o mundo”.
Mas como seria de esperar, leitores e escritores revoltaram-se e revoltam-se por causa destes anúncios de editoras. Queixam-se de apagar o que está feito, de alterar autênticos clássicos e falam de censura ou atentado à liberdade criativa. E lembram que é preciso ter em conta o contexto em que os livros foram escritos.
“Claramente estamos a falar de censura! Há um texto que o autor deixou e esse texto é alterado, tendo em conta a actualidade do texto”, analisou o escritor e editor Francisco José Viegas.
O editor e escritor lembrou na rádio Observador que “editar é escolher, há escolhas por motivos ideológicos”, mas alterar o que está escrito é outro nível.
“Alterar o texto parece-me completamente absurdo, censório, abusivo. Mesmo que os herdeiros dos autores tenham dado autorização. Além de censura, é uma violação do direito de autor e uma violação da propriedade intelectual.
Caso português, mas diferente
Agora, Afonso Reis Cabral relata que foi vítima de uma “cultura de censura” quando apresentou um livro seu a uma editora norte-americana (não disse qual), que recusou a publicação da obra e justificou a recusa.
Na obra, um homem cisgénero escreveu sobre uma pessoa transgénero – e esse era um problema para a editora.
“O escritor é claramente muito talentoso. No entanto, sinto que a franqueza de ‘O Meu Irmão’ pode ser problemática para o mercado dos EUA onde estes temas são levados muito a sério pelos media”, reagiu a editora.
“Eu tentei encontrar uma pessoa LGBTQ falante de português para tentar escrever um relatório de sensibilidade, mas não encontrei ninguém que falasse português. Por essas razões, decidi passar”, justifica a empresa.
Em relação ao relato de Afonso Reis Cabral, Francisco José Viegas não concorda com a palavra “censura”. Porque não houve intervenção no texto. Foi uma opção em relação a um tema sensível nos EUA. “Revela é uma pobreza de espírito muito grande”. Mas nada impede que outra editora publique o mesmo livro, tal como está.
No entanto, há outros casos: autores portugueses que receberam sugestões de “cortes dramáticos” aos seus textos, por parte dos editores.
A seguir virá o quê? A Mona Lisa com o sorriso apagado? A “Lacrimosa” o réquiem de Mozart com um bombo para não ser tão triste e bela? A espada de Carlos Magno passara a ser um martelinho das festas populares de São João? As festas de São João terão o nome Joca, para não “ofender” os não religiosos? Até onde chegará o despor e a censura das flores de estufa? Ao que chegamos, num momento onde impera o mau gosto, a estupidez e a falta de cultura eis que temos como paradoxo final uma censura feroz sobre o que de facto faz de nós, Humanos! Esta gente não acredita na evolução do Ser, nem na Educação! São como animais agem por instinto e por onde pousa o olhar! Que Mundo de irracionais em que vivemos hoje, não admira que as pessoas se sintam cada vez mais infelizes e andem todas em depressões, mesmo com uma vida muito mais fácil do era há muito!
Estou para ver se e quando vão alterar a Bíblia e o Corão! Vai ser lindo!
Será que Camus continuará a ir ao cinema depois de enterrar a mãe ou terá de passar a ir rezar a uma igreja?
Inconcebível; agora “já não há” gente estúpida, têm todos uma “noção alternativa de inteligência”. Sai uma distopia em balão aquecido…
As manifestações de imbecilidade vão acabar levando os humanos a uma situação insustentável, tornando-os incapazes de manterem a sociabilidade que ainda lhes resta. Já não se pode escrever livremente, já não pode ler livremente, já não se pode fumar livremente e, espero, resta-nos aguardar a proibição dos fraternos encontros ao estilo Adão e Eva.
Cáspite!
Imagino o que deverá ser reescrito no “Crime do padre Amaro”. Coitado do mestre Eça.