A raiva é uma doença com uma taxa de sobrevivência quase nula. Se for mordido por um animal portador do vírus, tem apenas 24 horas (ou 48 se estiver vacinado) para chegar a um hospital e impedir que atinja o sistema nervoso central, onde a infeção se instala e começa a causar sintomas.
De acordo com o IFL Science, caso não consiga impedir que o vírus chegue ao sistema nervoso, a pessoa infetada está simplesmente à espera da morte.
A incubação pode levar semanas ou mesmo meses, começando com uma gripe acompanhada de dores de cabeça, fraqueza e febre, que muitas vezes duram dias. Em pouco tempo, os sintomas progridem para problemas neurológicos, culminando em agitação, ansiedade e disfunção cerebral.
Os infetados podem continuar a desenvolver um medo absoluto à água, uma vez que o vírus impede o hospedeiro de beber, com estes a experimentar alucinações. Isso pode durar entre dois a dez dias e é quase sempre fatal – há menos de 20 casos registados de sobrevivência quando os sintomas estão instalados.
Mas como essas pessoas sobreviveram? Em certos casos, foi devido ao protocolo Milwaukee, um procedimento de último recurso que envolve morte cerebral quase completa – a sua eficácia é debatida e tem sido abandonada pela maioria dos médicos, mas tem ajudado alguns a derrotar a doença.
Desenvolvido por Rodney Willoughby Jr., o método, utilizado pela primeira vez em 2004, baseia-se na capacidade de o próprio organismo combater o vírus – mas apenas quando lhe é dado tempo suficiente.
A raiva move-se através do sistema nervoso central, onde multiplica-se e causa sintomas neurológicos. Rodney Willoughby Jr. e os colegas postularam que se a atividade cerebral pudesse ser reduzida ao mínimo, isso abrandaria o vírus o suficiente para manter o corpo vivo e dar ao sistema imunitário um tempo para o combater.
O protocolo foi experimentado pela primeira vez numa jovem de 15 anos, com os médicos a usarem medicamentos para induzir um coma, inibindo a atividade nervosa, enquanto lhe administravam um ‘cocktail’ de fármacos antivirais. Após 76 dias, a adolescente teve alta do hospital.
A jovem foi acompanhada durante anos. No início, após sair do hospital, teve dificuldades com a fala e com a locomoção. Mas foi para a faculdade e teve gémeos em 2016.
Desde então, os responsáveis pelo protocolo afirmam ter salvo 18 pessoas desde 2018 (duas nos Estados Unidos e as restantes no Peru), embora as estatísticas se tenham tornado confusas e os especialistas questionem estes números devido aos fracos registos.
O procedimento tem uma taxa de falha extremamente elevada, com um estudo recente a mostrar que apenas uma em cada 12 pessoas tratadas com o coma induzido sobreviveu.