Ucrânia pessimista: se a Rússia ataca em larga escala, não há resposta à altura

EPA/Roman Pilipey

“Não temos pessoas, nem armas”. Ataques de pânico, medo do som do tiro: relatos reais dos frágeis batalhões ucranianos.

Publicamente não se utiliza a palavra “pessimismo” mas, nos corredores das autoridades da Ucrânia, há pessimismo em relação aos próximos meses da guerra com a Rússia.

O jornal The Washington Post destaca que as forças armadas ucranianas tinham uma vantagem clara em relação aos russos: a qualidade dos seus militares. Forças qualificadas.

Mas isso mudou, um ano depois do início do conflito.

A razão é simples: o número de soldados ucranianos que já morreram. Estima-se que 120 mil soldados ucranianos já tenham morrido ou ficado com ferimentos. Os números oficiais continuam a ser um segredo.

No outro lado, já terão morrido 200 mil soldados – mas a Rússia tem o triplo da população e muitos mais homens prontos para o combate.

Houve substituição dos soldados mortos ou feridos; mas há demasiados recrutas inexperientes. Faltam munições, faltam mísseis e morteiros.

Um tenente-coronel do exército ucraniano, cujo nome verdadeiro não foi revelado, admitiu que há poucos soldados experientes do lado da Ucrânia. E a experiência é o factor mais valioso numa guerra, segundo o mesmo responsável militar.

O seu batalhão tinha 500 soldados: 100 morreram, os outros 400 ficaram feridos. Houve rotação total – e o único profissional militar é ele próprio, agora. Não há tempo para preparar os jovens, que nem disparam porque “têm medo do som do tiro”.

Há relatos de outros soldados ucranianos, também jovens e inexperientes, que têm medo de sair das trincheiras por causa dos bombardeamentos intensos dos russos. Uns têm ataques de pânico durante os combates.

Autoridades ucranianas começam a questionar a prontidão de Kiev para montar a uma tão esperada ofensiva de primavera.

Um alto funcionário do Governo ucraniano, disse sob anonimato que não acredita numa grande contra-ofensiva da Ucrânia: “Eu gostaria de acreditar nisso, mas olho para os nossos recursos e pergunto: vamos atacar com o quê? Não temos pessoas, nem armas“.

Se, há um ano, havia milhares de ucranianos a oferecerem-se para lutar pelo seu país, agora, entre os outros, há receio de se cruzarem com intimidações na rua, que os forcem a combater na guerra.

E há um problema maior: se a Rússia concretiza um ataque em larga escala, a Ucrânia não deverá ter uma resposta à altura para se defender.

O tempo vai passando, as forças armadas ucranianas vão-se deteriorando e reforçam os apelos de ajuda externa: mais treino, mais armas, mais veículos.

Oficialmente, o discurso continua a ser outro: “Não concordo, não esgotámos o nosso potencial. Em qualquer guerra, chega o momento em que é preciso preparar pessoas novas – é o que está a acontecer agora”, comentou Andriy Yermak, do gabinete do presidente Volodymr Zelenskyy.

Em Bakhmut terá havido uma retirada estratégica do exército ucraniano: ceder terreno naquele local para se concentrar na contra-ofensiva.

Mas há um “se” no título deste artigo.

É que, do lado russo, a situação também pode ser preocupante para o Kremlin, que estará a organizar uma ofensiva larga desde o início deste ano. Serão mais de 300 mil soldados no terreno, com outros 150 mil a caminho, em breve.

Mas o ministério da Defesa do Reino Unido, por exemplo, acredita que 97% do exército da Rússia já está na Ucrânia; não há muito mais para explorar.

Oficialmente, também reina o segredo sobre as perdas internas na Rússia.

ZAP //

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