Cientistas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, conseguiram prever convulsões mais de 30 minutos antes de ocorrerem entre os doentes com epilepsia do lóbulo temporal.
O projeto, liderado por Sandipan Pati, professor da Universidade do Texas, abre as portas a uma nova terapia utilizando elétrodos que também podem parar as convulsões antes mesmo de estas começarem, relatou o Study Finds.
“A capacidade de prever convulsões antes de ocorrerem é um grande passo em frente no campo da investigação da epilepsia”, disse Sandipan Pati, autor sénior do estudo, publicado recentemente no NEJM Evidence.
“Estas descobertas são significativas porque sugerem que podemos ser capazes de desenvolver terapias mais eficazes para a epilepsia, o que pode melhorar muito a qualidade de vida dos doentes que sofrem desta condição”, continuou.
A epilepsia do lóbulo temporal é o distúrbio convulsivo mais comum. As estimativas mostram que afeta cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo.
Existem dois lóbulos temporais, um de cada lado da cabeça. A epilepsia do lóbulo temporal mesial, que representa cerca de 80% de todas as convulsões do lóbulo temporal, envolve convulsões que começam numa parte do cérebro chamada hipocampo ou em torno dela. Esta região é responsável pelo controlo da memória e da aprendizagem. A epilepsia neocortical ou lateral do lóbulo temporal envolve convulsões que começam na região externa do lóbulo temporal.
A cirurgia é um tratamento comum para pacientes com epilepsia, mas quando as convulsões de um paciente afetam áreas maiores do cérebro, remover parte desse órgão não é uma opção. A terapia de neuromodulação pode ser uma solução alternativa para muitos pacientes com estas convulsões, de acordo com o cientista.
Pesquisas anteriores centradas na medição e no registo da atividade elétrica em diferentes partes do cérebro sugerem que as convulsões em pessoas com epilepsia de início focal ocorrem durante períodos de risco aumentado, representados por atividades patológicas do cérebro referidas como “estados pró-ictal”.
A deteção de estados pró-ictal através de eletroencefalografia contínua (EEG) é fundamental para o sucesso da neuromodulação adaptativa, pois a deteção precoce permite a aplicação de elétrodos na zona de início de convulsões do paciente.
Para distinguir esses estados pró-ictal, os investigadores estudaram e analisaram 15 doentes diagnosticados com epilepsia do lóbulo temporal. Foram submetidos a gravações a exames, entre eles o EEG, para localização das convulsões. No total, os investigadores analisaram 1.800 horas de EEG contínuo de doentes.
Os autores do estudo detetaram com sucesso estados pró-ictal em pacientes com epilepsia do lobo temporal pelo menos 35 minutos antes do início das convulsões. Além disso, em 13 dos 15 participantes, a equipa distinguiu estados pró-ictal pelo menos 45 minutos antes do início das convulsões. Entre os outros dois pacientes, distinguiram convulsões até 35 minutos antes do início das convulsões.
Sandipan Pati acredita que a modulação dessas regiões cerebrais durante os períodos pró-ictal pode ser uma abordagem terapêutica eficaz no tratamento da epilepsia do lobo temporal, mas os cientistas ainda têm de confirmar a teoria através de ensaios clínicos. Estas descobertas podem também levar ao desenvolvimento de tratamentos elétricos ou que evitem convulsões.
“Este estudo foi possível graças à colaboração de uma equipa de especialistas em neurologia, neurocirurgia e neurociência. Realça a importância da investigação interdisciplinar para o avanço da nossa compreensão das perturbações cerebrais”, concluiu Sandipan Pati.