Um famoso vírus pode, sozinho, matar todos os cisnes negros

Estudo avisa que o genoma do famoso cisne negro australiano deixa-o muito vulnerável. Gripe das aves é um perigo.

O título da análise avisa: O genoma e transcriptoma do cisne: nem tudo é preto e branco.

O estudo publicado na semana passada no portal Genome Biology avisa que um vírus, sozinho, pode matar todos os cisnes negros.

O cisne negro australiano (Cygnus atratus) é muito famoso. É praticamente um ícone, com a sua plumagem que contrasta com a dos cisnes brancos do hemisfério norte.

Mas a beleza esconde um problema sério: como estão mais isolados, geograficamente, também ficaram menos imunes e mais susceptíveis a doenças infecciosas – principalmente as doenças das quais a Austrália foi protegida a larga escala.

O cisne negro é extremamente sensível à gripe das aves. Mas tem sido complicado compreender esta sensibilidade porque os cientistas não têm disponíveis, para análise, genomas e transcriptomas da espécie.

Genoma é a composição genética, o conjunto de genes de uma determinada espécie. Transcriptoma é o conjunto de moléculas de ARNm presentes numa célula específica ou num tecido, num determinado momento.

Neste estudo, explicam os autores (de diversos países), pela primeira vez foram gerados os primeiros genomas de cisne negro, com comprimento de cromossoma anotados com dados de transcriptoma.

Esses genomas e transcriptomas serviram para mostrar que, ao contrário de outras aves aquáticas selvagens, os cisnes negros não têm um grande repertório de genes imunológicos. Não são tão imunes a doenças. Faltam genes imunológicos importantes.

Falta um receptor de reconhecimento de padrão viral chave nas células endoteliais.

Para chegar a estas conclusões, os cientistas utilizaram um poderoso software de computador para comparar os genes do cisne negro com o cisne branco (Cygnus olor). Foram comparados dezenas de milhares de genes.

E nessas comparações viram que uma classe de proteínas da família do TLR7 não é activada como deveria – e o TLR7 está relacionado com a protecção contra a gripe aviária e outros agentes patogénicos.

Ou seja, o gene de protecção contra o vírus da gripe aviária está lá, mas não é activado quando é necessário.

E assim, quando são “apanhados” pelo vírus da gripe das aves, a reacção inflamatória é desregulada.

Os dados sugerem que o sistema imunológico do cisne negro é tão frágil que, caso qualquer infecção viral aviária apareça no seu habitat, a sobrevivência da espécie cisne negro fica “em perigo significativo”.

O portal Science Alert reforça: a ameaça é tão severa que poderia acabar com toda a espécie.

A microbiologista Kirsty Short, da Universidade de Queensland, na Austrália, acrescentou: estes cisnes podem morrer logo em três dias, caso sejam infectados pela gripe das aves.

Mas dificilmente os cisnes negros iriam (todos) desaparecer, pelo menos em pouco tempo: ao todo há cerca de um milhão da espécie.

ZAP //

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