Marcas automóveis começam a apagar o “made in China”

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Nos últimos meses, as grandes marcas começam a retirar a produção de, pelo menos parte das peças, da China, segundo os testemunhos de gestores e especialistas do setor em declarações ao Financial Times.

“Voltou-se a pensar em larga escala sobre as operações logísticas em todo o setor”, defendeu Ted Cannis, CEO da Ford Pro, pertencente ao grupo Ford. “A cadeia de abastecimentos é o foco desta década”, acrescentou o gestor ao jornal, citado pelo Jornal de Negócios.

Esta mudança deveu-se à incerteza dos ‘players’ do setor relativamente às decisões de Pequim e ao futuro do mercado, após a China ter adotado uma política restritiva “covid zero” para combater o coronavírus. Em segundo lugar, a invasão russa à Ucrânia e a saída forçada de várias empresas de Moscovo devido às sanções.

“Enquanto a pandemia se prolonga por mais tempo, a incerteza [na China] aumenta”, considerou no início deste ano Jim Rowan, CEO da Volvo Cars, quando comunicou que a empresa ia reduzir a dependência face à China na produção de componentes.

O caso mais recente foi a Tesla. Depois de reduzir o cronograma de produção dos modelos 3 e Y em dezembro, a fábrica de Xangai da empresa vai encurtar o período de produção em janeiro para 17 dias, de acordo com uma notícia avançada pela agência Reuters esta semana, também citada pelo Negócios.

Ted Cannis acredita que a guerra na Ucrânia “surpreendeu o mundo [do setor automóvel]”, para quem este acontecimento parece ter surgido na altura certa, já que atualmente “a relação entre EUA e a China tem sido mais difícil. É um mundo novo”.

Segundo um estudo da Sheffield Hallam University divulgado este mês, um quarto das peças exportadas da China acabam em fábricas nos EUA. Mas é de esperar que o afastamento se torne cada vez mais evidente, ainda que tal saia mais caro à indústria.

“Se todos tentarem mudar para os mesmos fornecedores europeus e norte-americanos, a oferta fica limitada e os preços sobem”, um problema que, segundo Carlos Tavares, CEO da Stellantis, terá um impacto direto no bolso dos consumidores.

“Se não resolvermos a questão da acessibilidade, as classes médias não vão comprar veículos elétricos”, alertou o gestor português, citado pelo diário britânico.

“Se 85% do custo total de um veículo são as peças, se não agirmos nesses 85%, não teremos impacto”, de forma a permitir a compra de veículos pela classe média. Assim resta que “recorramos a países de baixo custo”, como a China e a Índia, concluiu.

ZAP //

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9 Comments

  1. A Europa julgava que ia mamar à conta da China a vida toda. Ainda bem que existem países como a China, a Rússia e outros para o poder europeu e ocidental não ser absoluto. Caso contrário estaríamos bem lixados.

    • Caro Miguel.
      Faça sff uma pesquisa na Net sobre o “tratamento” dado pela China às minorias étnicas muçulmanas, a maneira como não respeitou os acordos relativos a Hong-Kong e Macau p. ex. (um país, 2 sistemas que virou rapidamente um sistema), o tom ameaçador com que “conversa” com líderes ocidentais, a postura conivente com a invasão da Ucrânia, a falta de transparência na questão da COVID 19.
      Quanto à Rússia, basta ver todos os dias um bocadinho dos telejornais sobre a guerra e invasão da Ucrânia (mas podia tb. ver o histórico na Síria, Afeganistão, África, os envenenamentos e assassínios de opositores e jornalistas etc.).
      As semelhanças entre estes regimes e o estalinismo e o fascismo são muitas. Só não vê quem não quer.

    • Ainda estamos nos primeiros dias do novo ano, mas arrisco-me a dizer que o teu comentário é um sério candidato à maior palermice de 2023.

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