China deixa de reportar casos diários de covid-19. Fim de restrições abre caminho a nova mutação

Alex Plavevski/EPA

População chinesa tem baixos níveis de imunidade em relação ao vírus, como consequência das medidas restritivas, mas também uma residual taxa de vacinação.

O fim da política “covid zero” que o governo chinês implementou desde o início da pandemia levou, há cerca de um mês, a fortes protestos em várias zonas do país, o que forçou as autoridades a colocarem termo aos confinamento compulsivos que estavam a ser decretados. Perante a ausência de medidas restritivas, seria de esperar um ressurgir das infeções, com recordes de casos diários, mas não na escala que pode estar a acontecer.

Recentemente, a Comissão Nacional de Saúde da China anunciou que iria deixar de publicar os casos diários e as mortes por covid-19, uma decisão que não foi acompanhada de uma justificação, mas que surge numa altura em que ganham tração as dúvidas sobre a veracidade dos casos. Estima-se, por exemplo, que na última semana o número de infeções tenha chegado aos 37 milhões, noticia a RTP.

Os últimos dias ficaram também marcados por um aumento da procura dos cuidados hospitalares face aos números dos últimos anos, ainda que seja de esperar um abrandamento em relação à semana passada. Este período mais crítico coincidiu com um aviso da Organização Mundial de Saúde, que dava conta das dificuldades da China em monitorizar e tratar o número de casos de covid-19, após dois anos em que os protocolos sanitários eram radicalmente diferentes.

Esta situação é ainda agravada pelos baixos níveis de imunidade que a população chinesa tem em relação ao vírus, como consequência das fortes medidas restritivas, mas também da residual taxa de vacinação com as três doses recomendadas pelas autoridades do país (cerca de 42% nos idosos com mais de 80 anos) — a que se junta a menor eficácia em comparação com as vacinas ocidentais. A maioria das doses foi também administrada há mais de um ano, o que significa que muita da proteção pode já ter sido perdida.

É neste contexto que os cientistas temem que se criem condições para o aparecimento de uma nova mutação do coronavírus, em linha com o que já aconteceu em África com a variante Omicron. Os peritos admitem uma combinação de variantes ou algo completamente diferente, avança a agência de notícias norte-americana AP.

“A China tem uma população muito grande e a imunidade é limitada. Isso parece ser a causa pela qual poderemos assistir a uma explosão de uma nova variante”, avançou Stuart Campbell Ray, especialista em doenças infecciosas da Universidade Johns Hopkins. “Quando temos grandes vagas de infeção, são normalmente seguidas de novas variantes”, antecipou.

Shan-Lu Liu, estudante de viroses na Universidade Estadual de Ohio, acredita que a variante BF.7, uma mutação da Omicron, pode estar na origem do atual surto na China, uma vez que é extremamente hábil a contornar a imunidade.

Ana Rita Moutinho //

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