Palácio de Sintra resolve “enigma” com 200 anos

Uma equipa do Palácio Nacional de Sintra resolveu um ‘enigma’ com 200 anos ao identificar a Casa do Conselho de Estado, que acolheu os tribunais superiores do reino e as reuniões daquele órgão estatal.

Após três anos de investigação, a equipa do Palácio Nacional de Sintra descobriu a função original da sala que exibia, desde 2019, o Leito de Aparato do século XVII, de acordo com um comunicado hoje divulgado pela Parques de Sintra – Montes da Lua.

Segundo a nota, será possível conhecer a partir hoje o espaço “ignorado pela historiografia”, nomeadamente a sala que se destinou, entre os séculos XVI e XVIII “às mais altas instituições da monarquia”.

“A sala contígua, conhecida como Sala dos Árabes, acolheu os tribunais superiores do reino, nomeadamente a Casa da Suplicação, sendo o espaço posteriormente adaptado para as reuniões do Conselho de Estado”, acrescenta a nota.

De acordo com o comunicado, a descoberta “traz um novo contributo para a forma de interpretar um palácio” dado que “vem demonstrar que, entre o final da Idade Média e ao longo da época moderna (séculos XIII e XVIII) um palácio era muito mais do que a residência para a família real”.

“Era um lugar onde o rei provia à proteção dos seus súbditos, dando-lhes abrigo, alimento e justiça. Esta tripla função exigia três espaços distintos: aposentos para acolher, cozinhas para alimentar e salas para julgar crimes ou conflitos”, pode ler-se na nota.

“Quando o rei estava no palácio, era aí que funcionavam as principais instituições do reino, pelo que era imperativo que existissem dependências destinadas ao funcionamento dos tribunais superiores”, explica o comunicado.

A identificação das salas que tinham funções judiciais no Palácio Nacional de Sintra vem transformá-lo no único palácio do país onde é possível tomar contacto com as três dimensões referidas em simultâneo, explica o comunicado.

Segundo a nota, pensa-se que as duas salas em causa foram primeiro destinadas ao mais alto tribunal do reino – a Casa da Suplicação, itinerante até ao século XVI. A sua importância foi crescendo e, entre 1562 e 1569, criou-se oficialmente um Conselho de Estado como instituição autónoma que procurava “assegurar o bom governo do reino”.

A conclusão agora apresentada resulta de “um complexo e cuidado trabalho de pesquisa, realizado no âmbito do projeto global de revisão da museografia do Palácio Nacional de Sintra” que envolveu a interconexão de fontes históricas muito diversas.

Entre todos os documentos estudados, refere a nota, o mais relevante encontra-se no arquivo do Palácio Nacional de Sintra: um manuscrito do final do século XVII, intitulado “Livro das Cousas Ocultas”.

O Palácio Nacional de Sintra, também conhecido como Palácio da Vila, na freguesia de Sintra, foi um dos Palácios Reais e hoje é propriedade do Estado Português, que o utiliza para fins turísticos e culturais.

De implantação urbana, a sua construção iniciou-se no século XV, embora tenha sido aproveitada uma antiga construção da época muçulmana.

Apresenta características de arquitetura medieval, gótica, manuelina, renascentista e romântica. É considerado um exemplo de arquitetura orgânica, de conjunto de corpos aparentemente separados, mas que fazem parte de um todo articulado entre si, através de pátios, escadas, corredores e galerias.

O Palácio foi usado pela Família Real Portuguesa praticamente até ao final da Monarquia, em 1910. Foi aqui que D. Manuel I recebeu a notícia da descoberta do Brasil, foi aqui que nasceu e morreu D. Afonso V, foi aqui que foi encarcerado D. Afonso VI, foi aqui que D. João II foi aclamado rei.

Está classificado como Monumento Nacional desde 1910.

ZAP // Lusa

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