O álcool já não é a droga mais usada pelos jovens

Os jovens norte-americanos estão a abusar menos do álcool e mais da cannabis, de acordo com um novo estudo que analisou duas décadas de dados sobre adolescentes e crianças em idade escolar que acabaram por procurar cuidados médicos após usarem várias substâncias.

O abuso da cannabis por parte dos adolescentes aumentou em 245% nos Estados Unidos (EUA) desde 2000, revelou a nova investigação – publicada recentemente na Clinical Toxicology -, com um aumento particularmente dramático a ocorrer nos últimos anos.

Ao mesmo tempo, as taxas de abuso de álcool diminuíram entre os que têm entre seis e 18 anos. Em 2000, o álcool estava no topo da lista compilada a partir de uma base de dados nacional dos EUA, que regista informações sobre chamadas para linhas de ajuda a emergências. Agora, ocupa o terceiro lugar.

Tem havido uma onda de descriminalização da cannabis nos EUA nos últimos anos: o uso recreativo é agora legal em 19 estados. Embora isto seja apenas para adultos, os investigadores indicaram que tornou a droga mais disponível e mudou as perceções do público em relação à mesma.

“Os casos de abuso de álcool excederam o número de casos de marijuana todos os anos entre 2000 e 2013”, disse a médica de emergência e toxicologista Adrienne Hughes, da Universidade de Saúde e Ciência, do Oregon. “Desde 2014, os casos de exposição à marijuana têm excedido todos os anos os casos de álcool e em maior quantidade a cada ano”, indicou.

No total, 338.727 casos de uso e abuso intencional de medicamentos e drogas ilícitas e recreativas entre jovens em idade escolar foram relatados entre 2000 e 2020. Destes casos, quase 60% eram do género masculino, enquanto mais de 80% ocorreram em jovens entre os 13 e os 18 anos.

As estatísticas sugerem que o aumento da disponibilidade de alimentos contendo produtos à base de cannabis desempenhou um papel significativo, com as taxas médias de chamadas mensais por causa de comestíveis a aumentar mais do que as de outras formas de consumo.

“Estes produtos comestíveis são frequentemente comercializados de forma atrativa para os jovens e são considerados mais discretos e convenientes”, disse Hughes.

Dos outros medicamentos mencionados no estudo, o dextrometorfano (encontrado no medicamento para a tosse) foi, na realidade, a substância mais notificada por utilização indevida ou abusiva entre 2001 e 2016 – embora os casos notificados tenham atingido o seu auge em 2006 e tenham estado em declínio desde então.

O mau uso de medicamentos de venda livre, que estão mais amplamente disponíveis e são de fácil acesso, continua a ser um problema para os jovens. Foram também registados elevados níveis de utilização indevida de anti-histamínicos orais.

Como em qualquer campo da ciência, quanto mais detalhados forem os dados, mais direcionada pode ser a resposta a estes. Os profissionais de saúde e funcionários governamentais podem utilizar estas estatísticas para criar medidas que permitam reduzir o abuso e uso indevido de substâncias e para compreender as consequências de decisões como a legalização generalizada do uso de cannabis.

“O início precoce do uso de substâncias é um preditor importante do desenvolvimento de um abuso de substâncias mais tarde”, escreveram os investigadores.

“Como tal, os clínicos que cuidam de crianças e adolescentes devem estar bem informados sobre os padrões emergentes e mutáveis de abuso e uso indevido de drogas para uma identificação precoce e intervenção”, concluíram.

ZAP //

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