Porque é que os cortes de papel são tão dolorosos?

Está absorto num romance de mistério e, na excitação de virar a página, corta a pele do dedo indicador. Dispara uma dor dilacerante, apesar de se tratar de um corte pequenino. Mas se são tão pequenos, porque é que os cortes de papel são tão dolorosos?

Mãos e dedos humanos carregam uma alta concentração de células nervosas designadas por nociceptores, que respondem a sinais libertados por células danificadas, de acordo com BrainFacts.org.

Segundo o Live Science, os cortes de papel ativam principalmente “nociceptores mecânicos”, que detetam danos celulares causados por pressão, cortes e furos, em oposição a danos causados por temperaturas extremas, por exemplo.

Em menor grau, os cortes de papel podem também ativar nociceptores sensíveis a substâncias químicas, tais como as utilizadas para tratar o papel – estas células nervosas podem gerar comichão à volta do corte.

Os nociceptores ativados libertam uma onda de sinais elétricos que viajam através de feixes de fibras nervosas até à medula espinal; as células nervosas da medula espinal transmitem esses sinais para o cérebro.

Por fim, os sinais atingem o córtex somatossensorial, responsável por sensações de tato, temperatura e dor, apontou o StatPearls.

O córtex somatosensorial curva sobre a superfície do cérebro como uma banda, com diferentes regiões a representar diferentes partes do corpo. As mãos e os dedos estão tão repletos de células sensíveis ao tato e à dor que as regiões a elas dedicadas são enormes em comparação com as de partes menos sensíveis, como o tronco.

A boca e a língua ocupam uma região igualmente expansiva, o que ajuda a explicar porque é que cortar a língua é também super doloroso.

Mas não é apenas a anatomia que torna os cortes de papel estranhamente dolorosos: o próprio papel também contribui. Embora pareça liso a olho nu, a um nível microscópico percebem-se as fibras de madeira secas e comprimidas, que tornam as bordas bastante ásperas, referiu a Cosmos. Esta textura rugosa causa danos celulares mais extensos do que uma borda reta.

Normalmente, as folhas de papel apenas cortam as duas camadas superiores da pele – a epiderme e a derme – e, portanto, causam pouco ou nenhum sangramento. Contudo, as fibras nervosas permanecem expostas aos elementos durante um período prolongado e disparam sinais de dor sempre que são tocadas.

Para tratar um corte de papel deve-se limpar a ferida com água e sabão, aplicar pomada antibiótica para prevenir infeções e cobri-la com uma ligadura para fornecer almofada e bloquear os detritos, explicou o Ohio State University Wexner Medical Center.

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