Musk comprou uma guerra com um Senador. Pode sair-lhe muito cara

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Elon Musk e Ed Markey têm trocado farpas por causa do caos gerado pelo novo sistema de verificação no Twitter. O Senador já enviou uma carta ao regulador a pedir que aperte a vigilância sobre a rede social.

Há responsáveis políticos nos Estados Unidos que notoriamente percebem pouco das tecnologias modernas, tendo as audiências com Mark Zuckerberg deixado isso claro. Mas o Senador Ed Markey, de 76 anos, não é um deles, tendo até sido o autor da primeira lei sobre a neutralidade da internet em 2006.

A recém-compra do Twitter por parte de Elon Musk tem causado polémica atrás de polémica — desde despedimentos de funcionários em massa, que depois, afinal, já não o eram, limitações nas revisões internas de privacidade ou exigências de que os engenheiros assumissem a responsabilidade legal pelas novas mudanças — que culminou com uma onda de demissões e um boicote dos trabalhadores à própria empresa, que está a deixar a plataforma por um fio.

Uma das decisões mais polémicas de Musk foi também passar a cobrar pela verificação no Twitter. Anteriormente, esta verificação ficava apenas reservada a figuras públicas, políticos ou jornalistas, e só era dada após um processo rigoroso de certificação da identidade.

Agora, qualquer pessoa pode ter uma conta verificada à distância de um pagamento de oito dólares por mês. Esta situação gerou o caos completo, com contas falsas a fazerem-se passar por empresas farmacêuticas e a gerar apreensão na bolsa ou a personificar políticos. Um desses políticos foi, precisamente, Ed Markey.

Para testar o novo sistema de verificação, um jornalista do The Washington Post decidiu comprar o selo azul e tentar impersonar outras pessoas, incluindo o Senador Democrata do Massachusets. A conta falsa foi verificada tendo por base ser “notável no Governo, notícias, entertenimento ou outra categoria designada”.

Isto levou a que Markey questionasse Musk directamente sobre os seus planos para evitar a proliferação de contas falsas verificadas na rede social. “Aparentemente, devido às práticas de verificação negligentes do Twitter e à aparente necessidade de dinheiro, qualquer um pode pagar oito dólares e fazer-se passar por outra pessoa na sua plataforma. Vender a verdade é perigoso e inaceitável. O Twitter deve explicar como isto aconteceu e como impedirá que aconteça novamente”, lê-se na carta.

“Proteções como o selo azul do Twitter permitiram que os utilizadores fossem consumidores inteligentes e críticos de notícias e informações. Mas a aquisição do Twitter, a imposição rápida e aleatória de mudanças na plataforma, a remoção de salvaguardas contra a desinformação e a demissão de um grande número de funcionários aceleraram a transformação do Twitter no Velho Oeste das redes sociais”, atirou o Senador.

Markey lembra ainda que o Twitter “tem a responsabilidade perante o público de garantir que a plataforma não se torne um terreno fértil para manipulação e fraude” e pressiona a plataforma a dar respostas sobre as razões para a mudança do sistema de verificação e esclarecer como tudo funciona agora.

O Senador deu um prazo até 25 de Novembro para que Musk respondesse às suas questões. “Permitir que um imposto se faça passar por um Senador no Twitter é um problema sério a que tem de responder rapidamente”, declarou.

E Musk respondeu, só que não da forma que Markey esperava. “Talvez porque a sua conta verdadeira parece ser uma paródia? E por que é que ainda tem uma máscara na foto de perfil!?”, escreveu de volta o CEO da Tesla.

O Senador não gostou da resposta de Musk. “Uma das suas empresas está sob um decreto de consentimento da Comissão Federal de Comércio (FTC). A Agência de Segurança Rodoviária NHTSA está a investigar outra por matar pessoas. E está a gastar o seu tempo a arranjar confusões online. Conserte as suas empresas. Ou então o Congresso fa-lo-á”, refutou.

Markey referiu-se ainda à investigação aberta ao sistema de auto-piloto da Tesla, que já terá causado vários acidentes rodoviários, sendo alguns deles até mortais. Os seus arrufos com Musk já datam desde 2019, quando Markey foi um dos principais críticos das prácticas da Tesla, acusando a marca de carros de “repetidamente exagerar” sobre as capacidades do sistema de condutor automático.

Markey escreve à FTC

Esta quinta-feira, os Senadores Democratas, incluindo Ed Markey, escreveram uma carta conjunta à Comissão Federal do Comércio (FTC) onde deixam um apelo ao para que aperte a supervisão sobre o Twitter, apontando para potenciais violações das proteções aos consumidores com a onda de mudanças feitas por Musk

“Escrevemos sobre o desrespeito sério e intencional do Twitter pela segurança dos seus utilizadores e incentivamos a Comissão Federal do Comércio a investigar qualquer violação do decreto de consentimento do Twitter ou outras violações das nossas leis de proteção ao consumidor”, começam os Senadores.

Os responsáveis políticos acusam Musk de “minar a integridade e a segurança da plataforma” e de ignorar os avisos de que as mudanças seriam “usadas para fraude, golpes e roubos de identidade perigosos”

“O Twitter sabia de antemão que havia uma grande probabilidade do produto Twitter Blue ser usado para fraude, e mesmo assim não tomou nenhuma providência para impedir que os consumidores fossem prejudicados até que essa falsificação desenfreada se tornasse uma crise de relações públicas”, lê-se na carta.

Os Senadores lembram ainda que o Twitter já estava na lista negra antes da aquisição de Musk em Outubro, devido às acusações do denunciante Peiter “Mudge” Zatko, que alega que a empresa mentia publicamente sobre a segurança e a privacidade de que os utilizadores beneficiam.

“Apelamentos à Comissão que supervisione rigorosamente se o seu decreto de consentimento está a ser cumprido pelo Twitter se que aplique ações de execução contra quaisquer brechas ou prácticas que sejam injustas ou enganosas, incluindo penalizações civis ou responsabilizar pessoalmente os executivos do Twitter quando isso for apropriado”, rematam.

A Comissão já tinha anteriormente afirmado que está “de olho” em Elon Musk e frisou que ninguém “está acima da lei”.

“Estamos a acompanhar os desenvolvimentos recentes no Twitter com profunda preocupação. Nenhum executivo está acima da lei e as empresas devem seguir os nossos decretos de consentimento. A FTC tem novas ferramentas para garantir a conformidade e estamos preparados para usá-las”, garantiu Douglas Farrar, porta-voz da FTC.

Markeu tem também cargos importantes em comités e subcomités que vigiam setores onde Musk opera, como as comunicações ou a ciência e o Espaço, pelo que pode usar a sua influência política — principalmente agora que uma vitória Democrata no Senado está quase garantida — para apertar as leis de regulação às redes sociais ou responsabilizar Musk legalmente pelos problemas no Twitter.

Adivinha-se uma batalha interessante.

Adriana Peixoto, ZAP //

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