Peter Powell / Lusa
Desde a chegada de Erik ten Hag que a relação com Cristiano Ronaldo tem sido tensa, com o português a dizer agora publicamente que não respeita o técnico. O que dizem os números sobre as performances de CR7?
Na sua explosiva entrevista com Piers Morgan, uma das revelações mais bombásticas de Cristiano Ronaldo é de que não respeita o treinador Erik ten Hag. “Não tenho respeito pelo ten Hag porque ele não me respeita a mim. E se não tens respeito por mim, nunca terei respeito por ti”, atirou CR7.
A tensão entre o técnico do Manchester United e o craque português já era notória. Ainda antes do fim da janela de transferências já circulavam rumores de que ten Hag estava disposto a deixar Ronaldo sair.
O técnico contava inicialmente com o avançado nos seus planos para a equipa, mas terá mudado de ideias perante o desejo de Ronaldo de sair. A imprensa avançou até que CR7 estava isolado do resto do plantel e que até almoçava sozinho, o que não era um bom agoiro para um treinador acabado de chegar e que tinha como missão unir a equipa.
Ainda na pré-época, surgiu o primeiro arrufo em público entre os dois. Ten Hag passou um raspanete a Ronaldo e a outros jogadores que saíram de Old Trafford durante o intervalo do amigável com o Rayo Vallecano.
“Certamente que não apoio isto. É inaceitável. Para qualquer um. Somos uma equipa e têm que ficar até ao fim”, disse na altura o treinador.
Após ter sido titular na fatídica goleada por 4-0 que o United sofreu contra o Brentford, Ronaldo foi um dos jogadores sacrificados e foi relegado ao banco para o confronto contra o Liverpool, assim como Harry Maguire e Luke Shaw. A decisão pareceu compensar, já que o United garantiu a sua primeira vitória da temporada frente aos eternos rivais, ganhando por 2-1.
Relegado ao banco
Depois do jogo contra o Liverpool, o United seguiu com seis jogos e seis vitórias, sendo até agora a única equipa que impôs uma derrota ao Arsenal, que lidera a tabela. Na maior parte destes jogos, Ronaldo não foi uma peça fundamnetal do puzzle, tendo começado assim a passar mais tempo no banco e a ser usado como uma opção de rotação, garantindo a titularidade nos jogos na Liga Europa.
A imprensa inglesa deu ainda conta que Ronaldo estaria “furioso” e “descontente” com os métodos de treino de alta pressão de Erik ten Hag, considerando que o técnico era “teimoso” por insistir em replicar no United o seu estilo de jogo no Ajax.
A frustração de CR7 com a falta de tempo de jogo atingiu um ponto de ebulição no jogo frente ao Tottenham, quando Ronaldo recusar entrar como substituto nos últimos minutos e abandonou o relvado ainda antes do apito final. Como castigo, o craque foi suspenso no jogo contra o Chelsea e treinou com os sub-21, tendo regressado no jogo seguinte frente ao West Ham.
Sobre o castigo, ten Hag lembrou que Ronaldo tem a responsabilidade de dar o exemplo aos jogadores mais jovens. “Ele tem de ter noção de que é julgado pelo momento e sobre como está a agir agora. Especialmente no desporto de topo, é sobre hoje. Não é sobre a idade ou a reputação”, afirmou.
“Sou o treinador e sou responsável pela cultura de desporto de topo aqui e tenho de definir os critérios e valores e controlá-los. Depois de Rayo Vallecano, disse-lhe que era inaceitável, mas ele não era o único. A mensagem foi para todos, então quando houvesse uma segunda vez, haveria consequêcias. Foi o que fizemos agora”, explicou ten Hag.
Mesmo depois da afronta de Ronaldo, após a suspensão, ten Hag voltou a integrar o jogador na equipa e deu-lhe a titularidade em quatro jogos consecutivos contra o Sheriff, West Ham, Real Sociedad e Aston Villa. No confronto contra o Aston Villa para a Premier League, o técnico até deu a braçadeira de capitão a Ronaldo, dada a ausência de Harry Maguire e de Bruno Fernandes.
Mas, afinal, quem desrespeitou quem? Será que as performances de Ronaldo justificam a titularidade na equipa? Os números do FootyStats e do Infogol podem ajudar a responder.
As estatísticas de Ronaldo esta época
Ronaldo conta com 16 aparições pela camisola do United esta época, 10 como titular e seis com substituto. No total, marcou três golos (dois na Liga Europa e um na Premier League) e deu duas assistências em 1051 minutos de jogo.
No total de tempo de jogo, Ronaldo é o oitavo com mais minutos em todo o plantel do United. Já em relação ao número de jogos em que foi titular, CR7 é o 11.º. No total de aparições, ocupa o nono lugar.
E o que é que Ronaldo fez com as oportunidades que recebeu? Se compararmos o número de golos marcados com o número de golos esperados, CR7 é o atacante do United que pior se sai — o português conta 6,6 golos esperados, mas converteu apenas três, tendo uma diferença de 3,6 no vemelho.
Como termo de comparação, Marcus Rashford, que é o melhor marcador do United e tem sido o jogador mais usado como ponta-de-lança em vez de Ronaldo, tem 7,2 golos esperados, tendo já marcado sete esta época. A diferença é assim de -0,2, um valor practicamente insignificante.
Os minutos por contribuições para golo de Ronaldo também não são os melhores. Em média, o português marca ou faz um assistência a cada 210 minutos. Como contraste, Anthony Martial contribui para um golo a cada 48,6 minutos de jogo. No entanto, é importante lembrar que os números de Martial e de Garnacho são mais enviesados visto que ambos tiveram pouco tempo de jogo esta época.
Relativamente à média de remates a cada 90 minutos, Ronaldo lidera a lista, como 4,69, seguindo-se Rashford com 3,36 e Antony com 2,94. No entanto, na eficácia na conversão dos remates, Ronaldo cai para 11.º em toda a equipa, com 0,04 golos por remate. Já Martial lidera esta lista, com 0,5 golos por remate.
Se tivermos em conta apenas os golos por cada remate enquadrado com a baliza, Ronaldo continua no 11.º lugar, com 0,17. Desta feita, Garnacho ocupa o lugar cimeiro da lista, com 0,67.
Esta temporada, apenas 21,8% dos remates de Ronaldo são enquadrados com a baliza, a percentagem mais baixa em comparação com todos os outros jogadores do United que já tentaram rematar.
Na Premier League, quando Ronaldo foi titular, o United teve uma percentagem de vitórias de 25%, contra 70% sem o português. A média de golos marcados também é superior quando não é títular, sendo de 1,8 sem Ronaldo e de 0,5 com Ronaldo.
Os dois lados da barricada
Os números indicam que Ronaldo está frequentemente em boas posições, mas que a sua finalização está a falhar.
O contexto abre a porta a várias interpretações, dependendo do lado que quisermos defender. Do lado de ten Hag, a conversão fraca de Cristiano Ronaldo justifica a escolha de o deixar no banco, assim como o facto de jogador ter falhado a pré-época
Já os fãs de Ronaldo lembram que o jogador faltou a pré-temporada por bons motivos, dado que revelou na entrevista com Piers Morgan que a filha bebé estava hospitalizada. Pode-se ainda srgumentar que, se o jogador não jogar regularmente, então nunca vai entrar no ritmo e ganhar aptidão física para entrar em forma.
Uma coisa certa: a novela entre Ronaldo e ten Hag ainda vai dar muito que falar, especialmente quando a entrevista de CR7 for emitida na íntegra.
Gostava de ver o Fernando Santos ter uma atitude corajosa em relação a CR7 como o ten Hag teve. Se um jogador não rende tem de dar o lugar a outro, é básico – mas com o sr. engenheiro não é bem assim.
É engraçado andarem às patadas a esta pessoa, cujo principal defeito é ser oriundo de um povo que só quer p. e vinho verde (holandès dixit). Será que este hag (traduzir para inglès, plz.) também o será? Será… ?