O Governo está a apoiar um mega-consórcio de Inteligência Artificial (IA) que vai investir 78 milhões de euros e criar mais de 210 postos de trabalho em Portugal. O objectivo é ajudar a ultrapassar o atraso de 10 anos que a Europa tem em relação aos EUA neste sector.
Apoiado através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o Governo comparticipa o consórcio em 75%, com cerca de 51 milhões de euros.
O projecto conta com a colaboração de diversos parceiros, incluindo entidades governamentais como o IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação, empresas privadas como a NOS e a Devscope, e Universidades, nomeadamente o Instituto Superior Técnico de Lisboa e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Intitulado Accelerat.ai, este consórcio pretende ajudar a Europa a ultrapassar o atraso que tem relativamente aos EUA que, segundo a líder da startup Defined.ai (anteriormente chamada DefinedCrowd), uma das empresas envolvidas no projecto, é de 10 mil milhões de euros e 10 anos.
A importância da iniciativa insere-se na ideia de que “a AI é uma das tecnologias que, muito em breve, vai ser tão importante como a Internet para a nossa sobrevivência“, como destaca Daniela Braga, empresária e investigadora portuguesa que integra a Task Force Nacional de Pesquisa em IA da administração de Joe Biden, presidente dos EUA.
“Grande consórcio” é talvez o maior na área da IA
Liderado pela Unbabel, plataforma portuguesa baseada em IA de ‘Language Operations’ (LangOps), este “grande consórcio” é um projecto “à escala mundial, talvez, o maior consórcio nesta área“, como explica à agência Lusa o responsável de Produto da Unbabel, Paulo Dimas.
A IA é uma área “estratégica neste momento em que vivemos”, até porque implica “uma série de riscos“, nomeadamente em termos de preconceitos, discriminando indivíduos quer devido ao género, quer do ponto de vista étnico, frisa ainda Dimas.
Além disso, “alimenta-se de dados gerados por pessoas e, no fundo, reflecte todos os ‘biases’ [preconceitos] da nossa sociedade que estão nos produtos de IA”, acrescenta, frisando que tudo isto é “uma barreira muito significativa ao avanço da área e ao lançamento de certos produtos”.
O consórcio inclui também dois hospitais e a Bial como parceira industrial, sendo que, na área da saúde, “existem riscos muito grandes para a aplicação da IA”, nomeadamente o de pôr em risco a vida de pessoas, repara também o responsável da Unbabel.
Estes “são riscos muito grandes que estão a ser regulados a nível da União Europeia”, salienta, realçando a importância deste processo.
“Portugal na vanguarda da Inteligência Artificial”
O consórcio “vai permitir posicionar Portugal na vanguarda da IA responsável, é o maior consórcio a nível global”, sublinha ainda Paulo Dimas, salientando que wse trata de um investimento total de 78 milhões de euros para “um incentivo na casa de 51 milhões” do PRR.
Está previsto que o consórcio tenha um impacto na economia portuguesa de 250 milhões de euros em exportações até 2030, resultado do desenvolvimento de 21 novos produtos de IA.
Além disso, irá criar mais de 210 postos de trabalho altamente qualificados e atribuir 132 graus académicos avançados, nomeadamente, mestrados e doutoramentos, de acordo com a Unbabel.
O consórcio é composto por 11 startups: Unbabel, Feedzai, Sword Health, Apres, Automaise, Emotai, NeuralShift, Priberam, Visor.ai, YData e YooniK. Também inclui oito centros de investigação de Lisboa, Porto e Coimbra (Fundação Champalimaud, CISUC, FEUP, Fraunhofer Portugal AICOS, INESC-ID, IST, IST-ID/ISR e IT), uma sociedade de advogados (Vieira de Almeida) e ainda cinco líderes de indústria em Ciências da Vida, Turismo e Retalho (Bial, Centro Hospitalar de São João, Luz Saúde, Grupo Pestana e Sonae).
Para algumas das startups envolvidas “esta é uma oportunidade incrível de crescer rapidamente neste contexto e neste ecossistema que vai ser muito rico”, sublinha ainda Paulo Dimas.
“Juntámos também um conjunto de pessoas”, entre os quais está o professor António Damásio, que vai colaborar numa das áreas que o consórcio vai explorar, que é “a intercecção entre a IA e as neurociências“.
Paulo Dimas salienta que o consórcio vai ter produtos desta tradução, que é a área da Unbabel, por exemplo, até produtos mais vocacionados para as ciências da vida que vão “permitir acelerar os ensaios clínicos”.
Entre estes 21 produtos, há também alguns dirigidos para reabilitação remota, até na área financeira, incluindo “projectos a olhar mais para o futuro”, nota ainda.
Um produto que pode ser desenvolvido visa “permitir a pessoas com ELA – Esclerose Lateral Amiotrófica – comunicarem com as suas famílias”, revela também Paulo Dimas. “Vamos criar um tradutor que vai conseguir transformar essa fala interior que essas pessoas têm – falam dentro da cabeça delas -, traduzir essa linguagem silenciosa numa linguagem que as famílias possam entender”, destaca.
Dinheiro do PRR decisivo para “projecto único” no mundo
“Não conseguiríamos avançar para este tipo de produtos se não tivéssemos este tipo de investimento. Nos próximos três anos vai fazer a diferença”, destaca ainda o responsável da Unbabel a propósito do financiamento do PRR.
O consórcio tem três pilares centrais que podem ser resumidos como a justiça de não haver preconceitos/eliminação de preconceitos; a IA poder explicar porque toma determinadas decisões; e a sustentabilidade (em termos de eficiência energética).
Este consórcio “representa um nível de colaboração único a nível nacional e internacional”, destaca, por sua vez, o co-fundador e chief science officer da Feedzai, Pedro Bizarro.
Trata-se de “um projeto único a nível mundial e que me enche de orgulho”, sublinha ainda Bizarro.
Este responsável também nota que o objetivo é “desenvolver novas formas de IA mais responsável, ou seja, IA menos enviesada, mais explicável, mais eficiente e amiga do ambiente”.
O conceito de IA Responsável é um termo que reflete o desenvolvimento de sistemas de IA justos que reduzem o preconceito e o impacto negativo da tecnologia para grupos discriminados.
Já o presidente executivo da Bial, António Portela, salienta que este consórcio irá permitir à empresa farmacêutica “trazer os seus desafios em IA para um universo de startups e centros de investigação avançados, criando sinergias únicas” para conseguir “competir globalmente” nesta área, “acelerando a descoberta e desenvolvimento de novos medicamentos“.
ZAP // Lusa
Se for como os outros projetos PRR, vai ser mais uma treta para sacar milhões…
Podem fazer os mega consórcios que quiserem, não perceberam ainda é que IA é Big Data, e esse é o dominio dos EUA e China, o resto é paisagem.
Os dados valem mais do que petroleo, e não são dos dados dos cartões de crédito da morada ou do CC, mas sim os hábitos os comportamentos as emoções etc.. Este é o dominio das duas unicas super potências económicas.
É verdade. Em que mais se pode basear uma IA se não em dados, muitos muitos dados. Parece-me mais uma iniciativa estilo porto de Sines. Pensam que estão a fazer algo do outro mundo, porque na realidade… não conhecem o mundo em que vivem. Só em Espanha há 7 portos com maior capacidade de gaseificação do que Sines. Sines está ultrapassado ainda antes de se afirmar.