Foram precisos mais de três meses até que o Ministério Público abrisse investigação a uma queixa da comissão que estuda os abusos sexuais na Igreja Católica.
Uma das queixas entregues à Procuradoria-Geral da República (PGR) pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica levou mais de três meses a começar a ser investigada pelo Ministério Público (MP).
Os documentos mostram que a queixa só foi entregue a uma procuradora um dia depois de Pedro Strecht, coordenador da comissão, ter dado uma entrevista onde falou sobre a possível ineficácia das investigações.
“Há um facto que preocupa a Comissão e que é o seguinte: nós podemos ter o testemunho que revela um alegado abusador num crime que aconteceu há mais de 20 anos, mas, a ser verdade, há um alto risco de prossecução do mesmo crime porque os abusadores, uma vez abusando, têm grande probabilidade de o continuar a fazer”, disse Pedro Strecht.
O especialista salientou que o número de testemunhos que recebeu em relação a padres ainda no ativo “é grande” e “muitos mais” do que tinham ideia. Depois, o psiquiatra reconheceu que todos os 17 casos enviados para o Ministério Público envolviam padres ainda no ativo.
A notícia avançada pelo Observador adianta que o MP demorou outros 20 dias para arquivar a queixa. O Ministério Público percebeu que o padre visado na denúncia tinha morrido em 2020.
O caso só chegou ao conhecimento das autoridades judiciais no dia 24 de março, quando Pedro Strecht entregou em mão, na Procuradoria-Geral da República, em Lisboa, uma lista de 11 casos suspeitos.
“Para os efeitos que V. Exa. tiver por convenientes, junto remeto um conjunto de 11 fichas, extraídas dos testemunhos chegados até nós e suscetíveis de justificar procedimento criminal”, lê-se na carta entregue por Pedro Strecht.