Desde sexo só depois do casamento, proibições aos domingos e listas com as posições mais pecaminosas, a sociedade medieval tinha algumas regras sexuais caricatas — e os castigos para os mais atrevidos podiam ser pesados.
A nossa relação com a sexualidade nem sempre foi tão aberta como é nos dias de hoje. Na Idade Média, quando a Igreja e o Estado eram um só, as regras sobre com quem, quando e como se podia ter relações eram bastante mais rígidas.
Uma das principais regras e que durou muito além da Idade Média — e que ainda perdura em certas partes do mundo — é a proibição ao sexo antes do casamento. E o castigo para os “pecadores” que quebrasse a regra e fossem descobertos não era pêra doce — eram executados e estripados.
Havia também dois tipos de votos separados que complicavam a coisa. Os casais faziam votos quando ficavam noivos e faziam outros votos no casamento. Ambos tinham o mesmo peso e quando um casal fazia o primeiro, já podia consumar a relação sem ter de temer ver os seus intestinos a ser arrancados.
Há uma diferença entre os dois: o voto de noivado podia ser anulado, mas não havia espaço para arrependimento nos votos de casamento. Mas isto não significava que um casal podia ficar noivo, fazer o truca-truca e dois separar-se sem consequências – se fizessem sexo antes enquanto ainda estavam noivos, estavam automaticamente casados aos olhos da Igreja.
Claro que muitas pessoas não sabiam disto — ou fingiam não saber — e os tribunais eclesiásticos passaram muito tempo e lidar com casais que não se tinham apercebido de que se tinham casado desta forma.
A única forma de se escapar a um casamento infeliz era a impotência sexual, dado que o objectivo do matrimónio era a procriação. Houve também muitos homens que tentaram usar isto como argumento para passar a perna à Igreja, alegando que eram impotentes com a sua ex-mulher, mas sendo curados magicamente quando se voltavam a casar, relata o Ancient Origins.
A Igreja Católica começou a abrir o olho a estas travessuras e acabou por impor uma regra que exigia que o casal estivesse casado há pelo menos três anos e que houvesse testemunhas para sancionar os divórcios por impotência.
Marcar no calendário
As regras não se cingiam apenas a com quem se podia ter relações sexuais, já que a Igreja também definia um calendário para casais, com dias “castos” onde a fornicação estava proibida. Estes dias incluíam os domingos, os feriados religiosos, como o Natal e a Páscoa, e também os 40 dias da Quaresma.
Apesar de não estar explicitamente proibido, a Igreja também recomendava que o sexo fosse evitado durante a gravidez, a menstruação e a amamentação.
Se agora já sabemos que o que um não quer dois não fazem, na Idade Média a mentalidade era outra. O mito de que não há violações dentro de um casamento era mais forte do que nunca, com a lei a obrigar ambos os cônjuges a pagar a “dívida matrimonial” e ter relações com o parceiro se o outro assim quisesse, mesmo que não estivessem para aí virados.
Com o passar do tempo, a Igreja apercebeu-se de que muitas pessoas se estavam a marimbar para as regras e que as ignoravam e passou, progressivamente, a ser mais branda com os incumpridores.
Só de missionário, por favor
Uma das crenças religiosas medievais que se mantém até aos dias de hoje e que ainda informa muitos dos dogmas católicos modernos é a ideia de que as relações sexuais têm apenas um propósito: fazer bebés.
Ter relações pelo prazer carnal ou para se criar uma maior intimidade com os seus amados era grande um pecado. Isto significa que o sexo oral e anal e a masturbação estavam expressamente proibidos e que, consequentemente, as relações entre pessoas do mesmo sexo eram ilegais.
Quem violasse as regras, especialmente os homossexuais, era castigado de forma severa, com muitos a ser enforcados, queimados vivos ou a morrer à fome.
A Igreja também reprovava seriamente se a mulher assumisse o controlo da coisa, já que o sexo era encarado como uma coisa que o marido fazia à esposa, que devia ter uma postura submissa e passiva.
Qualquer posição onde a mulher ficava por cima era considerada anti-natura e alguns teólogos até fizeram listas e ilustrações das posições que eram aceitáveis e das que não o eram, com os manuais a indicarem quais as posições que mais provavelmente condenariam os “pecadores” a arder por toda a eternidade no Inferno. A única posição que era universalmente aceite era, como o nome indica, a posição de missionário.
‘O manual de instruções sexual da Idade Média’
Eu corrigia o título, digo eu, que sou meio ‘parvo’, pois, ‘instruções sexual’, não me soa bem.
Caro leitor,
Obrigado pela sugestão. São efetivamente as instruções que são sexuais, não o manual.
Título alterado.
“Uma das crenças religiosas medievais que se mantém até aos dias de hoje e que ainda informa muitos dos dogmas católicos modernos é a ideia de que as relações sexuais têm apenas um propósito: fazer bebés.”
Isto condiz com o que disse um médico há pouco tempo, quando, por algum erro de operação, uma mulher com mais de 50 anos ficou impedida de ter relações sexuais. Disse o médico que “depois dos 50 a vida sexual de uma mulher não tem grande importância”. Condiz. Se depois dos 50 já não tem filhos, para que serve o sexo?
O sexo ter como único objectivo a procriação ainda é dogma na igreja católica. Por isso o casamento entre homossexuais não é aceite, não por homofobia, como quase todas as pessoas pensam, mas porque a relação entre duas pessoas do mesmo sexo não faz sentido para a igreja católica, por não gerar descendência.
Ó Fernando, olhe que não foi um médico que fez tal afirmação! Foi um eminente juíz da nossa praça !!!! Não me lembro do nome da sumidade!
A mulher foi operada e vítima de erro médico. Recorreu aos tribunais, para ter direito a uma indemnização, e um juíz do Supremo Tribunal Administrativo reduziu, em mais de 60.000 euros, a indemnização que lhe fora atribuida, por outro tribunal, por achar que, aos 50 anos, a sexualidade não tem tanta importância como tem em idades mais jovens!!! Parece-me importante reavivar esta notícia no dia da mulher. Não sei se a decisão seria a mesma se se tratasse de um indivíduo do sexo masculino!!! È esta a verdadeira história, Fernando!!
Parece-me inquestionável que a sexualidade para uma jovem que pretende conceber um filho será efetivamente mais importante do que para uma mulher cuja idade já não o permitirá/aconselhará. Terá sido nesse sentido que o acórdão terá sido proferido. Mas há sempre quem prefira descontextualizar.