A composição química das linhas de crescimento dos mexilhões regista as flutuações anuais no ambiente marítimo e dá pistas sobre o que gerou a mini Idade do Gelo que levou ao arrefecimento no Atlântico Norte há 800 anos.
Os moluscos são os historiadores do mundo natural, já que marcas de crescimento nas suas cascas revelam informações importantes sobre o ambiente a sua evolução ao longo do tempo.
Segundo um novo estudo publicado na Nature Communications, estas linhas nas cascas dos mexilhões podem ser lidas e interpretadas pelos cientistas séculos depois.
Os antepassados dos moluscos têm estabelecido passagens na calcite mineral há mais de 500 milhões de anos, quase 300 milhões de anos antes do aparecimento dos dinossauros, o que nos dá um olhar sem precedentes sobre o clima no passado.
Dado que absorvem isótopos de carbono e oxigénio da água para criar as suas conchas, a composição química das linhas de crescimento dos mexilhões regista as flutuações anuais no ambiente marítimo, como a temperatura da água, a sua salinidade e o carbono dissolvido, relata o Science Alert.
Uma nova análise a estes registos de bivaldes revelou que uma mudança no clima global há cerca de 800 anos foi causada por um ciclo vicioso que acabou com a estabilidade do sistema climático no Oceano Atlântico Norte, tornando-o mais frio do que o normal. Esta pequena Idade do Gelo começou no século XIII e só acabou com o aquecimento gerado pelas atividades humanas.
De acordo com o que as cascas dos mexilhões permitem concluir, este arrefecimento foi causado pela fragilização abrupta dos padrões das correntes oceânicas subpolares.
Os cientistas suspeitam de que a certa altura as temperaturas no Atlântico Norte provocaram cada vez mais a fusão do gelo no Oceano Ártico, o que fez com que a água salgada fosse progressivamente diluída com a mistura com água doce — o por que sua vez enfraqueceu as correntes.
Por causa de tudo isto, a quantidade de calor que as correntes levavam até ao pólo Norte foi diminuindo, dando origem à mini Idade de Gelo. Hoje em dia, a tendência é para o aquecimento das águas e o Atlântico Norte está a aproximar-se de outro limite perigoso.
“Se a rápida perda de gelo marinho do Ártico, o derretimento acelerado do manto de gelo da Gronelândia e a exportação associada de água doce para as principais regiões convectivas do Atlântico Norte continuarem, um ponto de inflexão do giro subpolar pode novamente causar alterações climáticas regionais rápidas e duradouras”, alertam os autores.