Um terço dos desempregados está sem trabalho há mais de dois anos

José Sena Goulão / Lusa

No segundo trimestre de 2022, revelou o Instituto Nacional de Estatística (INE), 35% dos desempregados estavam sem trabalho há dois anos ou mais. No período homólogo de 2021 eram 23%.

Segundo dados do INE, citados pelo Público, no segundo trimestre de 2022 a população desempregada recuou 3,1%, para as 298,8 mil pessoas. Cerca de 152 mil (50,9%) estavam desempregadas há um ano ou mais e, destas, 105 mil há 24 ou mais meses.

Analisando o número de desempregados de longa duração, houve uma redução entre o segundo trimestre de 2021 e o de 2022 (de 154,4 mil para 152 mil), mas a proporção face ao total de desempregados aumentou. Em 2021, o total dos desempregados de longa duração era de 44,7% e as pessoas sem trabalho há mais de dois anos era de 23%. Agora, as taxas estão nos 50,9% e 35%, respetivamente.

A variação homóloga da proporção de desemprego de longa duração foi impulsionada pelo aumento entre os homens, nas pessoas entre os 55 e os 74 anos (embora na faixa etária entre os 25 e os 34 anos também tenha aumentado de forma significativa) e entre os desempregados que tinham o ensino superior (que agora representam quase um quinto do desemprego de longa duração).

Para João Cerejeira, economista e professor da Universidade do Minho ouvido pelo Público, o problema da falta de mão-de-obra tem raízes mais profundas, que vão além do desemprego de longa duração.

O subsídio de desemprego “está a ser usado como uma antecâmara para a reforma, funciona quase como uma situação de pré-reforma para as pessoas que já têm uma capacidade de empregabilidade relativamente baixa”, disse.

“Se estamos a falar de pessoas menos escolarizadas, as ofertas de emprego disponíveis acabam por oferecer salários muito próximos do valor do subsídio de desemprego que auferem e o incentivo para começarem uma nova carreira profissional ou manter-se no subsídio de desemprego e depois ter uma reforma acaba por ser uma decisão que está na margem”, indicou.

Outra explicação para a manutenção destes níveis de desemprego de longa duração tem a ver com o desajustamento entre a oferta e a procura, apontou ainda.

“Podemos ter falta de mão-de-obra na hotelaria no Algarve, mas se a pessoa está a morar em Trás-os-Montes pode haver também um desajustamento espacial. A mobilidade do trabalho em Portugal está muito condicionada pelo mercado de habitação, pelos transportes públicos e pelos preços do transporte privado, o que limita o raio de procura de emprego e de aceitabilidade”, exemplificou.

Também Paulo Marques, economista e coordenador do Observatório do Emprego Jovem (OEJ), referiu que “há uma relação entre desemprego de longa duração e falta de mão-de-obra, mas a outra parte da história tem a ver com a diminuição da população ativa e da dificuldade de atrair e reter pessoas. E aí entra a questão salarial e da qualidade do emprego”.

Paulo Marques lembrou que Portugal registou uma grande evolução na qualificação dos jovens e esta população cada vez mais qualificada não está disponível para fazer determinados tipos de trabalhos. Os licenciados “têm a expectativa de ter outro tipo de empregos e não o encontrando em Portugal, emigram”, apontou.

“É mais fácil ter salários mais baixos do que pensar em formas de valorizar o produto para vender mais caro”, criticou João Cerejeira, considerando que “haver falta de mão-de-obra é uma excelente notícia para os trabalhadores porque é a única forma de verem os salários aumentados”.

ZAP //

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