Investigadores analisaram pela primeira vez as partes do cérebro associadas à misofonia, condição relacionada com a aversão extrema a determinados sons.
Os indivíduos portadores dessa condição (até 20% da população) têm reações físicas ou emocionais intensas e negativas – muitas vezes vistas como exageradas por outras pessoas – a sons que a maior parte de nós não repara ou não dá significado, como o de mastigar, de tossir ou de limpar a garganta.
Num estudo anterior, da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, investigadores haviam descoberto que as pessoas que sofrem de misofonia têm a conexão entre o córtex auditivo do cérebro e as áreas de controlo motor da boca, garganta e rosto aumentada, descrita como “uma conexão hipersensibilizada”.
“Esta é a primeira vez que tal conexão no cérebro é relacionada com esta doença”, explicou o autor principal do estudo, Sukhbinder Kumar.
Esta nova investigação, desenvolvida pela Universidade do Ohio, revelou que essa explicação anterior pode não ser a correta, ou completa. Publicada recentemente no Frontiers in Neuroscience, a análise é a primeira a estudar o que acontece no cérebro quando as pessoas batem repetidamente com os dedos, avançou o Science Daily.
Os resultados mostraram que os padrões de conetividade cerebral desencadeados pelo batimento de dedos eram diferentes dos desencadeados pela mastigação.
“A história sobre o que acontece no cérebro é incompleta se nos concentrarmos apenas” nos “sons de mastigação ou relacionados”, disse Heather Hansen, principal autora do estudo. “Não podemos dizer que a misofonia é causada apenas por ligações cerebrais hipersensíveis com o córtex motor orofacial”.
O estudo envolveu a realização de exames de ressonância magnética funcional a 19 adultos, enquanto estes realizavam várias tarefas. Os participantes preencheram igualmente três diferentes questionários.
Uma tarefa envolvia a vocalização de várias sílabas. Os resultados mostraram que regiões do cérebro foram ativadas pela fala, o que se sobrepõe ao movimento orofacial. Os participantes também bateram repetidamente com os dedos nas suas pernas, tendo ainda sido analisados quando estavam sem realizar qualquer ação.
Os resultados mostraram que quando estavam em repouso, os participantes que tiveram uma maior pontuação para a misofonia revelaram ligações mais fortes entre o córtex auditivo e uma área de controlo motor – tal como havia sido demonstrado no estudo anterior.
Contudo, quando os participantes estavam a produzir sons, uma região diferente do cérebro foi ativada – e esta região não mostrou padrões de conetividade mais fortes nos indivíduos com altos níveis de misofonia quando comparados com aqueles com baixos níveis.
“O que a investigação anterior atribuiu à região orofacial – a área envolvida nos movimentos da boca e do rosto – pode não [estar] realmente [relacionado] com a região orofacial”, disse Hansen. “Estas descobertas sugerem que as ligações cerebrais hipersensíveis encontradas no anterior estudo não explicam a misofonia”.
O estudo mostrou que os participantes que obtiveram mais pontuação nos testes tinham uma ligação maior entre as regiões do cérebro associadas ao movimento dos dedos e a área da ínsula – ligada a emoções fortes, incluindo a repugnância.
“Não houve qualquer ligação com o córtex auditivo. A ligação importante era com a ínsula”, referiu Hansen. “Temos provas reais de pessoas que não gostam de sons que não são apenas aqueles produzidos pelo boca e rosto. É um importante passo em frente na compreensão da misofonia”, acrescentou.