Os alunos brasileiros perdem em média um dia de aulas por semana devido ao desperdício de tempo na sala de aulas, gastos com atrasos, excesso de tarefas burocráticas (fazer a chamada, limpar o quadro e distribuir trabalhos) e em aulas mal preparadas pelos professores – tempo este que deixa de ser gasto com o ensino dos conteúdos.
Esta foi uma das principais conclusões de um estudo lançado recentemente pelo Banco Mundial que analisou o trabalho de professores na América Latina e o seu impacto sobre a qualidade da aprendizagem, a formação dos alunos e o desempenho desses países em rankings internacionais de educação.
A investigadora Barbara Bruns, uma das autoras do estudo, lembra que o tempo de interação entre aluno e professor é o momento para qual se destinam, em última instância, todos os investimentos em educação. “Nada desse investimento terá impacto na melhoria da aprendizagem, a não ser que tenha impacto sobre o que ocorre na sala de aula”, diz ela.
O Banco Mundial avaliou 15,6 mil salas de aula, mais da metade delas no Brasil (classes dos ensinos básico e secundário em Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro), e calcula que, em média, apenas 64% do tempo das aulas seja usado para transmissão de conteúdo, 20 pontos percentuais abaixo dos padrões internacionais.
Barbara Bruns, em entrevista à BBC, explica que nas salas de aula da América Latina parece haver uma falta de organização por parte dos professores. “Em escolas no leste da Ásia, Japão, Singapura, Finlândia e Alemanha, não se vê professores a chegar à sala de aula sem ter material pronto, sem a perceção de que o tempo é para ser usado para ensinar e manter os alunos empenhados”
A solução passa por aumentar a eficiência dos docentes, que implica uma formação mais focado na prática do ensino. “Na América Latina, há muito pouca ênfase, nos cursos preparatórios, sobre como gerenciar uma sala de aula, como ser um professor eficiente”, explica a especialista.
Barbara Bruns descreve que “os cursos de pedagogia falam muito de filosofia, história da educação, das disciplinas do currículo, mas muito pouco sobre a prática do ensino”, ao contrário, por exemplo, da área da Medicina, onde os futuros médicos dedicam uma parte significativa do seu percurso a observar e a serem orientados.
Outro fator que diferencia a performance dos professores na América Latina dos de outros países com sistemas educacionais mais eficientes é a importância dada ao desempenho. Nos países latinos, por norma, a progressão na carreira depende do tempo de trabalho, ao invés do bom desempenho das suas funções – que em muitos casos nem sequer passa por avaliação.
A especialista afirma que, apesar de tudo, o Brasil está melhor, com várias experiências e inovações promissoras. “Nos 20 anos que estudo o Brasil, pude ver muitos avanços. Mas obviamente há muito a melhorar”, afirma Barbara Bruns.
ZAP / BBC