O vereditos dos australianos divide-se entre “génio” e “diota”, enquanto a galeria de Auckland expõe vegetais fermentados no teto.
Uma obra de arte que consiste num único pickle arrancado de um cheeseburger do McDonald’s e atirado para o teto de uma galeria de arte de Auckland é um gesto “provocatório”, que questiona o que tem valor, segundo a galeria.
A obra, intitulada Pickle, pertence ao artista australiano Matthew Griffin, de Sydney, e é uma das quatro novas obras em Belas Artes, a exposição de Sydney em Auckland, situada na Galeria Michael Lett.
Alguns fãs apreciam o trabalho, à venda por 6.146 euros, e consideram-no “genial” e “brilhante”, enquanto outros lhe chamam “idiota”.
Um dos críticos salientou o abismo entre a forma como o gesto é tratado numa galeria, em comparação ao restaurante: “Fui expulso de um McDonald’s pela polícia por fazer isto quando era adolescente, agora é arte”.
A peça faz lembrar a obra de arte do artista italiano Maurizio Cattelan, chamada Comedian — uma banana colada à parede de uma galeria em Miami, em 2019, que foi vendida por 108.000 euros. Foi depois arrancada da parede e comida por David Datuna, o artista nova-iorquino.
Parte do objetivo da obra é gerar respostas e reações diferentes, de acordo com Ryan Moore, o diretor de Belas Artes, que representa Griffin. “Uma resposta humorística à obra não é inválida — não faz mal, porque é engraçada”, diz Moore.
Moore aprecia o trabalho de Griffin porque, para além de usar o humor como dispositivo, segue as tradições da arte contemporânea e questiona “a forma como se gera valor e significado entre as pessoas”.
“Em geral, não são os artistas que decidem se algo é arte ou não — são eles que fazem as coisas. Se algo é valioso como obra de arte é a forma como nós, enquanto sociedade, escolhemos usá-la ou falar sobre ela”, realçou Moore.
“Por muito que se pareça com um pickle preso ao teto — e não há ali nenhuma obra de arte, é exatamente o que é — algo como uma escultura”, acrescenta.
O pickle está preso ao teto com o seu próprio molho pegajoso e não mostrou sinais de decadência, nem está a estragar — “se for ao McDonald’s em todo o mundo, verá coisas presas no teto”.
Andrew Thomas, co-diretor da Galeria Michael Lett, acredita que Pickle foi uma boa inclusão na exposição, permitindo àqueles que se deparam com o trabalho de Griffin pela primeira vez “pensar amplamente sobre as várias ideias que encapsula“.
“Tem havido muitos sorrisos, seguidos de perto por algumas conversas interessantes”, salientou Andrew Thomas, citado pelo The Guardian.
A obra de arte está à venda por mais de 6 mil euros, e custará ao comprador outros 2,73 euros por um cheeseburger. A instituição, ou coleccionador que a possui, receberá instruções sobre como recriar a arte no seu próprio espaço.
“Não se trata do virtuosismo do artista que está ali na galeria a atirá-lo ao teto — como chega lá não importa, desde que alguém o tire do hambúrguer e o atire para o teto”, disse Moore. “O gesto é tão puro, tão alegre… é isso que o torna tão bom“.
Definitivamente, chegamos ao fim dos tempos!
Era uma boa obra de arte, atirar o gajo contra o tecto e deixá-lo lá colado. Um desafio à tolerância gravítica. Um grito de revolta contra a tirania da verticalidade.
Curiosa, a divisão de opiniões que considera a dita obra (ou o artista) entre “génio” e “idiota, pois só mesmo idiotas poderiam considerar isto uma obra de génio!