A imagem clássica dos dinossauros gigantescos que vivem numa selva pré-histórica quente não está errada — mas está incompleta.
Paleontólogos chineses encontraram vestígios de dinossauros ao lado de vestígios de gelo antigo, o que contribui para o longo debate sobre se os dinossauros podem ter sobrevivido a temperaturas geladas e se a Terra alguma vez gelou o durante o período Triássico tardio e o Jurássico primitivo.
Num novo estudo, publicado a 1 de julho na revista Science Advances, o paleontólogo Paul Olsen e outros investigadores baseiam-se no recente trabalho de campo para argumentar que os dinossauros sobreviveram a baixas temperaturas.
Em entrevista à Interesting Engineering, Olsen realça que a ideia de que todos os dinossauros viviam numa floresta quente pré-histórica está “totalmente errada”.
“Os dinossauros [que viveram] em altas latitudes e em regiões polares — em lugares onde o inverno era gelado — não são marginais. Foi isso que eles fizeram”, explica.
As novas provas surgiram sob a forma daquilo a que os investigadores chamam “detritos gelados do lago”. Quando um lago congela no Inverno, o gelo que se forma na margem apanha grãos de sedimentos.
“Quando chega a primavera e o gelo se parte, pedaços de gelo que transportam grãos da linha costeira derivam para o meio e caem”, indica Olsen.
À medida que os sedimentos se acumulam ao longo do tempo, os grãos ficam selados no local. É um método que os investigadores utilizam para compreender os climas antigos, porque a produção de gelo é a única forma de transportar estes grãos.
“Não há nenhuma forma hidrodinâmica de retirar esses grãos do meio do lago, a menos que tenham sido desviados de lá”, nota Olsen.
Enquanto a análise dos sedimentos foi a “descoberta fundamental” da equipa de investigação, também encontraram outra coisa: pegadas de dinossauros. “Por isso, sabemos que os dinossauros viviam nessa época“, sublinha.
Esta não é a primeira evidência que mostra que os dinossauros viviam em climas muito frios. Olsen realça que muitos (se não todos) os tipos de dinossauros tinham isolamento como penas ou estruturas semelhantes a pelos nos seus corpos.
Os cientistas primeiro documentaram um dinossauro com filamentos (um termo especializado para estruturas semelhantes a pelos ou penas) na década de 1830, “mas todos ignoraram esse trabalho”, afirma Olsen.
Essa espécie era um dinossauro voador que pertencia aos pterossauros. “Desde então, todos os pterossauros que foram devidamente examinados têm estes filamentos”, refere o investigador.
E não se trata apenas de pterossauros. Há dez anos, investigadores encontraram Yutyrannus, que significa “tirano emplumado“, também na China.
Olsen e os co-autores utilizam os novos dados de sedimentos para defender que todos os dinossauros tinham estes filamentos nos seus corpos.
“Uma vez que os pterossauros são parentes próximos dos dinossauros, e estes filamentos estão presentes nos pterossauros e dinossauros, o argumento mais simples que se pode fazer em termos da origem destas estruturas [é que] o antepassado comum dos pterossauros e dinossauros tinha os filamentos”, explicou Olsen. “O objetivo destes filamentos é claramente o isolamento“.
“Nos pterossauros, é um revestimento como um pelo por todo o corpo”, acrescenta, apontando também para outra fator: todos os tipos de dinossauros possuíam os filamentos, não apenas aqueles que podiam voar.
Não há dúvida de que a Terra era muito mais quente durante o Triássico tardio e o Jurássico primitivo do que é hoje. Este novo estudo mostra que a Terra antiga — tal como o planeta de hoje — era muito diferente em lugares diferentes.