Investigadores encontraram restos de um antigo continente ao datar rochas do Southwest Indian Ridge – dorsal oceânica localizada entre África e Antártida -, descoberta que ajuda a suportar a hipótese de que muitos dos primeiros continentes perderam-se ou esconderam-se na crosta oceânica da Terra.
“Não teria suspeitado que as rochas são de continentes, parecem-se com as que normalmente são encontradas no fundo do mar”, referiu Chuan-Zhou Liu, geólogo da Academia Chinesa de Ciências de Pequim, que visitou o Instituto Oceanográfico Woods Hole em 2017 para recolher amostras de rocha daquela dorsal oceânica.
De acordo com o estudo, publicado recentemente na Science Advances e citado pelo Discover, as rochas analisadas podem ter até 2,7 mil milhões de anos – idade suficiente para terem existido quando se formaram os primeiros continentes da Terra.
Segundo Liu, as correntes de convecção no manto podem transportar blocos de crosta terrestre – designados cratões -, ao longo de grandes distâncias. Um cratão em particular chamou a atenção do investigador: “Há evidências de que um fragmento do cratão Kaapvaal, na África do Sul, tenha sido desalojado”, referiu.
O cratão Kaapvaal é a crosta continental antiga mais próxima do Southwest Indian Ridge, localizada a cerca de 2000 quilómetros. A equipa sugere que plumas de rochas quentes provenientes do manto sob a África do Sul corroeram o fundo do cratão, desalojando peças que foram depois transportadas por correntes de convecção para aquela dorsal oceânica.
Através de simulações realizadas em computador, os investigadores descobriram que até 20% do cratão Kaapvaal poderia ter sido removido desta forma e transportados para o Southwest Indian Ridge ao longo de 100 milhões de anos.
Esta descoberta proporciona também uma visão sobre a evolução de continentes. Tradicionalmente, acredita-se que os continentes tenham crescido de forma gradual. Mas agora há outra explicação: talvez muitos dos continentes se tenham formado cedo e sido reciclados, retornando ao manto, apontou o Discover.
“Se a Terra em tempos teve grandes continentes, certamente estão escondidos abaixo da crosta”, disse Ross Mitchell, geofísico da Academia Chinesa de Ciências de Pequim, coautor do estudo. A reciclagem de continentes nas profundezas pode ter sido possível graças a plumas que eram ainda mais quentes durante a história inicial da Terra. “Se está a acontecer hoje, pode ter também acontecido na altura”, frisou.