Uma equipa de investigadores portugueses descobriu uma proteína que é responsável pelo desenvolvimento das células T, essencial na resposta a infeções,abrindo caminho para o desenvolvimento de novas terapias e para o reforço do sistema imunitário de idosos e de imunocomprometidos.
Segundo noticiou esta quarta-feira o Diário de Notícias, a equipa, liderada por Nuno Alves, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), no Porto, descobriu a proteína LAMP2, responsável pelo desenvolvimento das células T no timo. Estas atuam, por exemplo, na resposta imunitária contra vírus, bactérias e tumores.
“O timo é um órgão fundamental na nossa resposta imunológica, porque é o único local do organismo onde são produzidas as células T. Tem essa função exclusiva. E sem essas células T, a nossa resposta imune fica comprometida”, indicou o imunologista ao jornal diário.
Como apontou o artigo, o timo situa-se na cavidade torácica, perto do coração, e realiza a maturação das células estaminais jovens produzidas na medula óssea – e transportadas pela corrente sanguínea até ao timo – transformando-as em células T (ou linfócitos T).
“É como um exército com diferentes batalhões específicos, cada qual equipado para reconhecer especificamente determinados corpos estranhos. Ou seja, cada conjunto de células T tem um recetor exclusivo para um determinado agente invasor. Agora, com o SARS-CoV-2, a grande maioria das pessoas conseguiu responder à ameaça porque tem um conjunto de células que tem um recetor para as proteínas específicas deste vírus. A resposta das células T é altamente específica. E o importante é gerar esse espectro de diversidade, na ordem dos biliões de células com missões diferentes, no nosso sistema imunitário”, explicou Nuno Alves.
A equipa descobriu que a ausência da proteína LAMP2 no timo diminui a resposta imune, pois afeta essa produção fundamental de células T. “É uma proteína cuja função no timo não se conhecia e que nós conseguimos identificar”, disse, indicando que o desenvolvimento das células T “depende do microambiente específico e exclusivo fornecido pelo timo, e que é arquitetado e proporcionado pelas chamadas células epiteliais tímicas (TECs). Se estas células epiteliais não existirem, o timo não consegue produzir e desenvolver as células T”.
Foi nestas TECs que os investigadores descobriram a nova proteína, LAMP2, que se revelou essencial na regulação do desenvolvimento destas células centrais para o sistema imunitário.
A equipa demonstrou que “quando se compromete a expressão da proteína LAMP2 nas TECs, compromete-se a diversidade do conjunto de células T e compromete-se a capacidade da resposta imunológica contra infeções”, como foi o caso, testado em animais pelos investigadores do i3S, da bactéria Listeria. Verificou-se que essa proteína “permite diversificar o reportório de células T, isto é, selecionar uma população diversa de células capazes de responder a várias ameaças”.
“A nossa resposta imune vai sendo moldada ao longo dos anos por diversos motivos, como a resposta às diferentes infeções com que vamos sendo confrontados e a redução da função tímica. O timo é um dos primeiros órgãos a envelhecer no nosso organismo. Na adolescência a massa tímica é já substancialmente reduzida em relação aos primeiros anos de vida. Por isso, os idosos têm dificuldade em responder a vacinas ou infeções, porque a diversidade celular já está comprometida nessa altura”, acrescentou o investigador.
O próximo passo, avançou ao Diário de Notícias, “é tentar perceber se a função da LAMP2 diminui com a idade e se esse declínio contribui para a perda de diversidade das células T. Se isso se comprovar, teremos uma oportunidade única para tentar restaurar terapeuticamente a função da LAMP2, e desta forma conseguirmos rejuvenescer a resposta imunológica de grupos de risco, como os indivíduos mais idosos ou pacientes imunocomprometidos, a novas infeções, cancro ou vacinas”.