Segundo os cientistas, podemos pensar nos vírus como se fossem um vida extraterrestre que moldou o nosso destino genético.
Os cientistas podem debater se os vírus estão vivos ou não mas, independentemente da classificação, o nosso planeta tem cerca de 1031 deles, segundo Penelope Boston, diretora do Instituto de Astrobiologia da NASA.
Estes vírus desempenham um papel bastante importante, não só em doenças como a covid-19, mas também no setor emergente da astrobiologia.
Vírus e pré-organismos semelhantes atuam como “movedores de genes” que podem afetar em grande escala a evolução da vida, ao misturar grandes blocos de genes de uma só vez, esclarece Boston.
Especialistas sugerem, por exemplo, que os vírus influenciaram a introdução da fotossíntese em bactérias que não a tinham anteriormente, segundo a Cosmos.
Rachel Whitaker, microbióloga da Universidade de Illinois, observou que um vírus pode ter dotado os primeiros hominídeos com o gene da sincitina, uma proteína que ajuda um embrião em desenvolvimento a ligar-se ao útero e a criar a placenta. Se não fosse este antigo vírus, podíamos nem existir.
Whitaker realça que nos primórdios da evolução da vida, antes da evolução da célula, os genes podem ter passado entre os nossos antepassados, num processo conhecido como transferência lateral de genes, no qual qualquer pessoa podia facilmente trocar material genético com os seus vizinhos.
A célula desenvolveu-se depois e, num passo chamado “limiar darwiniano”, o processo da partilha de material genético deixou de ocorrer entre vizinhos e passou a realizar-se entre pais e filhos — hereditário.
Em teoria, este processo abrandou substancialmente o progresso da evolução, de acordo com a microbióloga. E, na maior parte dos casos, aconteceu, a menos que um vírus estivesse envolvido.
Os vírus, segundo Whitaker, seriam capazes de dar origem a uma pandemia, na qual se podiam inserir permanentemente no genoma de um organismo, e alterar o seu metabolismo da noite para o dia.
A sincitina é um exemplo antigo, mas o processo continua ainda hoje. A própria investigação de Whitaker envolve bactérias que vivem em fontes termais em regiões tão diversas como Kamchatka, na Rússia, ou Lassen National Park, na Califórnia.
“Quando se olha para os genomas”, afirma Whitaker, “vêm-se assinaturas de transferência lateral. Vêm-se ilhas de genes a chegar e a sair do nada“.
O significado desta investigação para o nosso planeta ainda é incerto, mas uma das descobertas mais interessantes de Whitaker é que as bactérias infetadas com um certo tipo de vírus transportam consigo a capacidade de criar toxinas que matam bactérias não infetadas com esse vírus. Por outras palavras, o vírus melhorou a capacidade do seu hospedeiro de sobreviver, prosperar, e dominar.
“Isto leva a um tipo de evolução realmente diferente do que teríamos pensado”, sublinha a microbióloga. “Isto significa que a evolução é infecciosa“.
Outros astrobiólogos estão impressionados, mas não sabem bem como incorporar esta descoberta na procura por vida extraterrestre.
Boston, no entanto, acredita que a investigação vai ser bastante importante quando trouxerem amostras de Marte para análise na Terra. “É possível que os vírus possam ser fossilizados”, salienta.
A dirigente não prevê que os os vírus sejam encontrados em rochas do Planeta Vermelho mal cheguem à Terra, mas tendo em conta a sua importância no nosso planeta — principalmente depois da pandemia de covid-19 — ignorar esta possibilidade seria um erro.
“Em astrobiologia é essencial manter uma mente aberta”, conclui Boston.