Rússia descarta resolução diplomática para a guerra

Mikhail Tereshchenko / EPA

O presidente russo, Vladimir Putin ouve o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Russas, Valery Gerasimov.

O presidente russo, Vladimir Putin (E) ouve o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Russas, Valery Gerasimov (D).

Kremlin até poderia aceitar um desfecho do conflito através do diálogo; mas isso iria colocar Vladimir Putin em maus lençóis, a nível interno.

Quase dois meses depois do início da invasão à Ucrânia, e após diversas rondas de negociação que poucos resultados criaram, o Governo russo não vê nessas negociações o caminho que origine o fim da guerra.

Ou melhor, o Kremlin até poderia aceitar um desfecho do conflito através do diálogo, por via diplomática – mas o problema é que isso faria descer muito a popularidade de Vladimir Putin, que ficaria em maus lençóis, a nível interno.

Os responsáveis de Moscovo acreditam (ou preferem acreditar) que a grande maioria da população russa apoia esta “operação militar especializada” e não iria compreender um desfecho antecipado, sem uma vitória triunfal da Rússia.

A mesma população russa, confia o Kremlin, olha para a guerra na Ucrânia como uma real “luta contra os nazistas e contra o nazismo”.

No entanto, estas contabilidade não são consensuais porque as sondagens realizadas na Rússia são “fechadas” e criam dúvidas.

Três fontes próximas da presidência russa revelaram ao portal Meduza que Putin e os seus aliados mais próximos já chegaram à conclusão que, agora, não há qualquer desfecho positivo para o seu lado, se acabarem com a guerra através de conversas.

E, por isso, nem têm preparado a opinião pública na Rússia para essa possibilidade. Declarar o fim da guerra através de diálogos não é um assunto sequer comentado a nível interno.

A classe média, de acordo com a versão do Governo local, apoia claramente este conflito. E o único desfecho que admitem é: “Se a guerra já começou, precisamos de vencer – seja em Kiev ou mesmo em Lviv. Não podemos recuar.”

Uma eventual desistência, ou final “precoce” da guerra, também poderia criar uma insatisfação geral, com protestos nas ruas – um cenário que Putin não admite.

A mesma classe média, que vive confortavelmente a nível financeiro, não tem sentido muito as consequências do aumento dos preços. O que recebem, chega. Além disso, sentem que estão a defender o seu país e a defender a justiça.

Quem ganha menos dinheiro e, nesta altura, passa por mais dificuldades para ter comida em casa, é mais provável que seja contra a guerra.

No entanto as mesmas fontes, mesmo estando ligadas ao Kremlin, admitem que a  ideia constante defendida por Putin ou por outros responsáveis – quando dizem que estão a salvar a população ucraniano de um regime nazi – “já foi longe demais”.

No terreno, os responsáveis da Rússia centram-se agora na região do Donbass, onde pretendem alcançar “controlo total”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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