Pela primeira vez, a um ritmo de uma letra por minuto, um homem paralisado com Esclerose Lateral Amiotrófica conseguiu comunicar apenas através dos seus pensamentos.
A Esclerose Lateral Amiotrófica (ALS, na sigla em inglês), também conhecida como doença de Lou Gehrig, é uma doença que causa a morte dos neurónios de controlo dos músculos voluntários.
A enfermidade ganhou especial notoriedade por nos ter roubado o astrofísico Stephen Hawking — talvez o mais famoso doente de ALS,
Este tipo de esclerose é caracterizado por rigidez muscular, espasmos e, gradualmente, aumento da fraqueza, devido à perda de tamanho dos músculos. Isto resulta em dificuldades de fala, deglutição, e, por fim, respiração.
Um novo dispositivo pode ser uma pequena luz ao fundo do túnel dos pacientes que sofrem de ELA. Graças ao implante deste dispositivo no cérebro, um paciente paralisado conseguiu selecionar letras e formar frases.
O homem conseguiu treinar a sua mente para usar o dispositivo e pedir massagens, sopa, cerveja e ver filmes com o filho, entre outras coisas, escreve a MIT Technology Review.
O participante do estudo, um homem com ALS, que agora tem 36 anos, começou a trabalhar com cientistas da Universidade de Tübingen em 2018, quando ainda conseguia mexer os olhos.
Após quase três meses de tentativas falhadas, a equipa tentou o chamado neurofeedback, que se baseia no registo e análise automática da atividade elétrica do cérebro, procurando verificar e treinar a atividade cerebral.
Um tom audível ficava mais alto à medida que os neurónios perto do implante aceleravam e mais baixo à medida que desaceleravam. Os investigadores pediram ao participante que mudasse esse tom de qualquer forma possível.
Ao fim de quase duas semanas, escreve a American Association for the Advancement of Science, o homem conseguia controlar o tom. “Foi como música para os meus ouvidos”, disse o investigador Ujwal Chaudhary.
Controlando o tom, o homem conseguia indicar “sim” ou “não” a letras individuais, formando frases. Cerca de três semanas depois, o paciente produziu uma frase inteligível: um pedido para que os cuidadores o mudassem de posição.
Um ano depois, a evolução foi-se mostrando gradual e lenta. Ao ritmo de uma letra por minuto, o homem disse coisas como: “Sopa de goulash e sopa de ervilhas”, “Eu gostaria de ouvir o álbum dos Tool alto” e “Eu amo meu filho fixe”.
Se o novo sistema for confiável para todas as pessoas que estão completamente paralisadas, poderá permitir que milhares de pessoas se reconectem com as suas famílias e equipas de tratamento médico.
Ainda assim, esta é uma realidade ainda distante. Centenas de horas foram investidas para projetar, testar e manter o sistema personalizado.
“Não estamos nem perto de colocar isto num estado de tecnologia assistiva que possa ser comprado por uma família”, diz Melanie Fried-Oken, da Oregon Health & Science University.
A fundação de Chaudhary está a procurar financiamento para dar implantes semelhantes a várias outras pessoas com ALS. O investigador estima que o sistema custaria cerca de 500 mil dólares nos primeiros dois anos.
“É realmente notável poder restabelecer a comunicação com alguém num estado completamente paralisado”, diz Jaimie Henderson, neurocirurgião na Universidade de Stanford, que não esteve envolvido no estudo. “Para mim, isto é um tremendo avanço e, obviamente, bastante significativo para o participante do estudo”.
Como a ciência nos surpreende todos os dias, lamentavelmente, nem sempre a utilizamos para o bem da humanidade.
Sem dúvida um grande avanço para os utentes com ALS. Quando chegará o dia em que os governantes estarão mais preocupados em reservar nos seus orçamentos verbas para ajudar a ciência, em vez de as canalizarem para o armamento?