Marco Milella

Os corpos na comunidade Çatalhöyük eram enterrados debaixo do chão das suas casas. O significado deste ritual fúnebre ainda é desconhecido.
Nas ruínas da cidade de Çatalhöyük, que é uma das mais antigas do mundo e fica na atual Turquia, os rituais fúnebres eram bastante diferentes dos dos dias de hoje, com os mortos a serem enterrados debaixo do chão das suas casas.
Um novo estudo publicado na Scientific Reports revelou mais detalhes sobre os funerais nesta comunidade.
“Os adultos eram mais frequentemente colocados numa posição flexionada, localizada debaixo das plataformas no norte e no leste da sala central”, escrevem os autores da pesquisa, que acrescentam que os recém-nascidos e as crianças eram enterradas em localizações mais variadas na casa.
Os esqueletos dos mortos eram também pintados, apesar de ainda se saber pouco sobre o simbolismo das pinturas e sobre os pigmentos específicos usados. Os cientistas examinar os restos mortais dos esqueletos de indivíduos da comunidade Çatalhöyük, sendo que 800 destes foram escavados desde o início da década de 90.
A equipa usou um espectómetro de raios X fluorescentes e concluiu que apenas uma minoria dos mortos — cerca de 6% dos estudados — foram sujeitos a este ritual enquanto que 11% tinham itens nas sepulturas com pigmentos, como conchas pintadas, tigelas, cestas e objetos de osso, explica o Science Alert.
Os pigmentos aplicados eram sempre vermelhos e geralmente a parte do corpo que era pintada era o crânio, com o ocre vermelho a ser o pigmento usado com maior frequência. Mais homens do que mulheres tiveram os seus ossos pintados e o ritual também era ligeiramente mais comum nos adultos do que nas crianças.
Os autores acreditam que os pigmentos menos usados refletiam a identidade social dos falecidos, com o cinábrio a ser mais usado nos homens. Já o azul e verde eram apenas usados nos funerais de mulheres e crianças, mas os cientistas sublinham que o tamanho limitado da amostra não nos permite tirar conclusões definitivas.
Nem todos os membros da comunidade eram enterrados da mesma forma e alguns podem até nem nunca serem enterrados. Entre os corpos descobertos, alguns não tinham sido remexidos desde o Neolítico, mas há outros com os quais já se tinha interferido, com ossos isolados e esqueletos desarticulados.
Isto pode significar que os ossos dos mortos podiam ter um significado simbólico na comunidade e ser usados em rituais, antes de serem novamente enterrados. Já o propósito e o significado deste ritual continua a ser um enigma, mas os autores supõem que esta pode ter sido uma forma de se manter viva a memória dos mortos.