Nuno Melo é candidato à liderança do CDS-PP depois do desaire das legislativas de janeiro, mas o caminho do eurodeputado não está facilitado apesar de ter do seu lado distritais de peso como Lisboa, Porto e Braga.
O congresso do CDS, marcado para os dias 2 e 3 de abril, não augura um caminho fácil para Nuno Melo. Ao todo, há 10 moções de estratégia global em discussão, sendo que uma delas se destaca por ser subscrita por 11 presidentes de distritais, todos afetos a Francisco Rodrigues dos Santos.
Fernando Almeida, presidente da distrital do CDS de Aveiro, é o primeiro subscritor da moção “Pelas mesmas razões de sempre“, que é também subscrita pelos presidentes das distritais do Porto, Vila Real, Setúbal, Coimbra, Évora, Viana do Castelo, Santarém, Leiria, Beja e Bragança, contando também com a colaboração de presidentes de concelhias, membros da comissão executiva do partido, ex-cabeças de lista às legislativas e autarcas.
De acordo com o jornal Público, que contactou fonte da comissão organizadora do congresso (COC), o texto é praticamente uma cópia da moção que o ainda líder centrista levou ao último conclave e que o consagrou presidente do partido. O primeiro subscritor não terá de ser candidato, mas é um facto que, se a moção tiver uma votação expressiva, poderá complicar as contas de Melo.
João Merino, presidente da distrital do CDS de Setúbal, é um dos subscritores que entende que o “trabalho feito pela atual direção ao longo dos últimos dois anos deve continuar“. “O objetivo não é fazer mossa a Nuno Melo, é propor um caminho para o partido, abrindo-o às pessoas e deixar de estar na bolha e nas guerrilhas internas.”
“Nuno Melo está a cometer um erro ao apresentar um friso de pessoas que são aquelas que estão no partido há 30 anos e que constam da sua moção”, considera, salientando, em declarações ao diário, a importância do debate interno. “Não podemos fugir à discussão, há muita coisa a esclarecer.”
À semelhança de Merino, que diz que o congresso “vai ser animado”, outro dirigente centrista referiu ao Público que o conclave “não será um passeio triunfal para Nuno Melo”.
Os subscritores da moção das distritais não terão uma “atitude de revanche”, mas a mesma fonte não deixa de lamentar que Melo, que “tem proclamado que é tempo de unir e de construir, se tenha acantonado junto de pessoas que estão conotadas com o grupo de Paulo Portas”.
Nuno Correia da Silva na corrida
O dirigente centrista Nuno Correia da Silva vai ser candidato à liderança do partido no próximo Congresso. Numa nota à comunicação social, justifica-se a candidatura com o “crescente entusiasmo” com que a sua moção de estratégia global, intitulada “Liberdade”, tem “recolhido pelo país”.
“A direção de campanha informa que Nuno Correia da Silva será candidato a presidente do CDS-PP”, refere a nota, acrescentando que “em breve será divulgado o calendário de apresentações” pelo país.
Nuno Correia da Silva é vogal da Comissão Política Nacional, ex-vereador na Câmara de Lisboa e foi deputado na VII legislatura, quando Manuel Monteiro liderava o CDS-PP, tendo integrado a sua direção.
Correia da Silva já tinha admitido uma candidatura caso a sua moção de estratégia global fosse a mais votada no Congresso e junta-se agora aos dois candidatos já assumidos: o eurodeputado Nuno Melo e o dirigente Miguel Matos Chaves.
A apresentação de uma moção de estratégia não implica, segundo os regulamentos e os estatutos do CDS, uma candidatura à liderança. No entanto, “as candidaturas à presidência do partido e à Comissão Política Nacional são apresentadas pelo primeiro subscritor de uma Moção de Estratégia Global”, segundo o regulamento do congresso.
Na moção “Liberdade”, Nuno Correia da Silva considera que o CDS “terá de se afirmar autonomamente, marcar as suas fronteiras políticas e o seu território eleitoral” e voltar a adotar a designação Partido Popular.
Correia da Silva tem 55 anos e foi líder da Juventude Centrista, deputado entre 1995 e 1999, e saiu do CDS em 2003 com Manuel Monteiro para o partido Nova Democracia. Foi cabeça de lista pelo PPM em Lisboa em 2013, tendo regressado ao CDS em 2016.
Assumiu funções de vereador em Lisboa (em resultado da saída de membros eleitos na lista de Assunção Cristas em 2017) e apoiou João Almeida no congresso de 2020, mas aceitou integrar a comissão política liderada por Francisco Rodrigues dos Santos, tendo sido cabeça de lista por Viseu nas últimas autárquicas.
O 29.º Congresso do CDS vai decorrer nos dias 2 e 3 de abril, em Guimarães.
Liliana Malainho, ZAP // Lusa