O vírus do Ébola pode esconder-se no cérebro de macacos que recuperaram após tratamento médico sem causar sintomas e levar a infeções recorrentes.
O Ébola é uma das ameaças de doenças infecciosas mais mortais conhecidas pela humanidade, com uma taxa média de mortalidade de cerca de 50%.
É conhecido por um alto nível de persistência viral, o que significa que o vírus permanece à espreita no corpo mesmo após a recuperação do paciente. Mas onde fica esse esconderijo permanece, em grande parte, um mistério.
Em 2021, houve três surtos de Ébola em África, todos ligados a sobreviventes infetados anteriormente. O Ébola também ressurgiu na Guiné no mesmo ano, associado a um sobrevivente do surto de 2013-2016.
Os cientistas queriam entender melhor onde é que o vírus se “esconde” no corpo dos sobreviventes e o que é que desencadeia infeções recorrentes. Os resultados do estudo foram publicados na revista Science Translational Medicine.
Assim, examinaram 36 macacos-rhesus que foram tratados para o Ébola com terapia de anticorpos monoclonais, um tipo de tratamento que ajuda o sistema imunitário a montar um ataque contra a infeção. Esses macacos foram considerados totalmente recuperados sem sintomas de infeção ou vírus detetável no sangue.
Quando examinaram mais de perto os tecidos de diferentes órgãos ao microscópio, no entanto, descobriram que cerca de 20% dos macacos recuperados ainda tinham o vírus visível localizado exclusivamente no sistema ventricular do cérebro.
Esta região do cérebro produz, circula e armazena o líquido cefalorraquidiano, que protege, fornece nutrientes e remove os resíduos do cérebro.
É importante realçar que, apesar de serem assintomáticos no início do estudo, dois dos macacos observados desenvolveram sintomas de Ébola antes de morrerem 30 e 39 dias após a infeção inicial, respetivamente.
As descobertas sugerem que o vírus do Ébola pode esconder-se nos cérebros dos sobreviventes mesmo após o tratamento, e o vírus pode reativar-se e causar infeções fatais mais tarde.
O tratamento com anticorpos monoclonais é o padrão atual de tratamento para o Ébola. Mas infeções recorrentes podem ocorrer mesmo após tratamento aparentemente bem-sucedido, e os pacientes podem transmitir inadvertidamente o vírus e causar novos surtos.
O novo estudo reforça a importância do acompanhamento médico cuidadoso de longo prazo de sobreviventes do Ébola tratados com sucesso para combater o custo individual e de saúde pública da doença recorrente.
Os cientistas não sabem porque é que o vírus persiste no cérebro e causa infeções recorrentes. Também não é claro se essa persistência pode estar relacionada com tratamentos com anticorpos monoclonais e se outros tipos de terapias, como antivirais, podem produzir um efeito diferente.
ZAP // The Conversation