“Não se pode correr riscos” durante uma guerra. Socialistas aconselham Costa a manter Santos Silva no Governo

António Cotrim / Lusa

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva

A mudança no contexto internacional com o início do conflito entre a Rússia e a Ucrânia tem levado alguns socialistas a apelar ao primeiro-ministro que mantenha Augusto Santos Silva como Ministro dos Negócios Estrangeiros e que não o aponte para a Presidência da República, como estava planeado.

A saída de Augusto Santos Silva do cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros era já dada do como certa, com os socialistas a apontarem o seu nome para ser o próximo Presidente da Assembleia da República e assim suceder a Ferro Rodrigues.

No entanto, com reviravolta no plano internacional que a guerra na Ucrânia trouxe, há agora dúvidas no partido sobre se esta é a altura certa para Santos Silva sair do Governo e alguns socialistas têm aconselhado António Costa a reconduzir o Ministro no cargo no próximo mandato.

“O ideal é não mexer no Ministro dos Negócios Estrangeiros”, revela Sérgio Sousa Pinto, presidente da Comissão Parlamentar dos Negócios Estrangeiros, ao Público.

Marcos Perestrello, presidente da Comissão Parlamentar de Defesa e antigo secretário de Estado da Defesa, partilha da mesma opinião. “Considero natural que o primeiro-ministro tenha de ajustar as ideias que tivesse para a composição do Governo, em particular para as pastas dos Negócios Estrangeiros e Defesa”, defende, acrescentando que João Gomes Cravinho também se deve manter como Ministro da Defesa, apesar dos rumores de que seria substituído por Ana Catarina Mendes, actual líder parlamentar do PS.

Um outro socialista que não se quis identificar afirma que nesta fase delicada e com o impacto imprevisível da guerra, “não se pode correr riscos” ao se “começar do zero” e que o melhor é apostar em quem já tem experiência no Governo.

Já Francisco Seixas da Costa, antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus, não acha que a guerra deva ser um entrave à saída de Santos Silva, visto que “a política externa portuguesa está estabelecida pela União Europeia e é defendida no Conselho Europeu onde, de acordo com o Tratado de Lisboa, o ministro dos Negócios Estrangeiros não está presente”.

“A continuidade do Governo é o único factor importante” e não há um Ministro em específico que deva ficar por causa do conflito, com Seixas da Costa a acreditar que não haverá qualquer “sobressalto na política externa” se Santos Silva sair para a Presidência da Assembleia da República, já que esta está consolidada também graças ao seu trabalho nos últimos seis anos.

Caso a saída se concretize e Santos Silve substitua Ferro Rodrigues no segundo cargo mais alto do Estado, este pode ser o seu último reforço do perfil e currículo político antes de uma eventual candidatura à Presidência da República em 2026, que tem sido falada nos meios de comunicação.

Com o fim dos dois mandatos de Marcelo Rebelo de Sousa, a porta fica aberta para o regresso de um socialista ao cargo de mais alto da nação. Recorde-se que o PS já não apresenta um candidato próprio a Belém desde Manuel Alegre em 2011.

Adriana Peixoto, ZAP //

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