Uma nova pesquisa concluiu que a pandemia nos tornou menos materialistas, apesar da ansiedade generalizada e da nossa maior exposição aos media. No entanto, há grupos da população que contrariam esta tendência.
No início da pandemia, a população entrou em modo de compras motivadas pelo pânico, com a comida enlatada a voar das prateleiras e o papel higiénico a tornar-se um escasso bem precioso. Será que a pandemia nos tornou mais materialistas?
O materialismo é alimentado em momentos de solidão e ansiedade e também pelos media que consumimos — todos factores se tornaram ainda mais prevalecentes com os sucessivos confinamentos que a pandemia trouxe, nota o The Conversation.
Mas, surpreendentemente, um novo estudo concluiu que a tendência foi contrária. A pesquisa baseou-se num inquérito feito a uma amostra representativa da população do Reino Unido sobre os objectivos e valores de cada pessoa antes e depois da chegada da covid-19 e mostrou que, no geral, a população agora importa-se menos com dinheiro e ganhos materiais.
Os inquiridos avaliaram objectivos como “ter sucesso financeiro” ou “ter um emprego que pague muito bem” como menos importantes do que antes da chegada da covid-19. Já outros valores ligados à auto-estima e à partilha da vida com pessoas amadas mantiveram-se iguais.
Os investigadores acreditam que estas mudanças se explicam com o maior foco dado à saúde e com a promoção de iniciativas solidárias e, no geral, com os desafios comuns que todos vivemos durante a pandemia.
No entanto, os factores apontados no início comprovaram-se já que os inquiridos que estiveram mais expostos aos meios de comunicação e que sofreram mais ansiedade valorizaram mais os bens materiais.
Esta mudança nas nossas atitudes coletivas pode ser benéfica, já que estudos anteriores já mostraram que o materialismo leva a um nível de felicidade mais baixo, a uma menor satisfação com a vida, uma maior má disposição e mais ansiedade.
Mesmo assim, as tendências materialistas são evidentes na cultura popular e nas redes sociais e até as crianças aprendem desde pequenas a associar os bons comportamentos com ganhos materiais.
A publicidade também promove estas crenças através da ligação entre o dinheiro e o consumo com a felicidade, uma auto-estima mais alta e um maior estatuto social. A pesquisa também concluiu que houve um maior número de publicações online de marcas a promover o consumo como uma resposta às emoções negativas.
Estas duas tendências podem eventualmente levar a uma sociedade polarizada. Por um lado, parte da população vai manter a tendência iniciada com a pandemia e desvalorizar os ganhos materiais, algo que pode trazer grandes alterações no tecido social cujos primeiros sinais já se notam com a “grande demissão”.
Por outro lado, o constante bombardeamento de publicidade a vender a ideia de que a chave para a felicidade é o consumo pode levar ao resultado oposto. Esta polarização pode vir a ser um dos efeitos a longo prazo da pandemia e trazer consequências sérias para as gerações mais novas.