Kirstie Allsopp sugeriu que os jovens, hoje em dia, não conseguem comprar casa porque têm “luxos” que no seu tempo não existiam, como Netflix e ginásio.
A apresentadora britânica Kirstie Allsopp, mais conhecida pelos inúmeros programas televisivos de casas, ofereceu conselhos a jovens aspirantes a proprietários.
Numa entrevista, entretanto apagada pelo Sunday Times, no último fim de semana, Allsopp disse que quando comprou o seu primeiro imóvel “não existia o estilo de vida de viajar para o estrangeiro, EasyJet, café, ginásio e Netflix”.
“Eu costumava caminhar para o trabalho com um sanduíche. E no dia do pagamento do salário, comia uma pizza, ia ao cinema e comprava um batom”, acrescentou.
A apresentadora dá assim a entender que, para os jovens que queiram comprar casa no competitivo e sobrevalorizado mercado imobiliário, basta abdicarem destes “luxos”.
Ora, quando Allsopp comprou a sua primeira casa, com 21 anos de idade, o preço médio de um imóvel era de 51 mil libras. Hoje, o preço ronda as 255 mil libras. Mesmo assim, o pai, Charles Allsopp, 6.º Barão Hindlip, empresário britânico e membro da Câmara dos Lordes de 1993 a 1999, teve que a ajudar.
A britânica diz que é possível economizar 1.600 libras por ano ao cortar Netflix, ginásio, férias, etc. Com um adiantamento de 10% para comprar casa, é necessário um depósito a rondar as 25 mil libras. Isto exigiria 15 anos e nove meses de poupança dessas 1.600 libras para amealhar esse montante.
Mas o que é que aconteceria exatamente se os jovens começassem a economizar, como sugere Allsopp, para arranjar dinheiro para o adiantamento do imóvel?
Ouvida pela revista VICE, Sarah Coles, analista sénior de finanças pessoais da Hargreaves Lansdown, diz que qualquer redução significativa nos gastos com serviços afetaria o país.
“Se algum segmento da sociedade parasse de gastar totalmente com coisas não essenciais e poupasse cada centavo, isso teria um impacto na economia”, diz a especialista. “Aqueles setores da economia dominados por jovens poderiam enfrentar problemas de sobrevivência, mas todos os negócios seriam atingidos”.
Além disso, os jovens teriam que economizar quase o dobro daquilo que fariam há 20 anos, e isto é se economizarem 15% do seu salário líquido.
Aliás, na realidade, porém, os jovens já são a faixa etária que gasta a menor proporção do seu salário em bens não essenciais — deitando por terra o argumento de Allsopp.
No primeiro semestre de 2021, o preço médio de uma casa superou, pela primeira vez desde que há registos, os 160 mil euros, de acordo com os números do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Embora o preço médio seja mais baixo do que no Reino Unido, o valor poupado também seria menor do que o referido por Allsopp, visto que os preços dos bens e serviços também são mais baixos.
Ainda assim, pegando nas 1.600 libras (~1.900 euros) por ano sugeridas pela apresentadora britânica, a realidade não mudaria muito. Para conseguir o depósito de 10%, equivalente a 16 mil euros, seriam necessários quase nove anos de poupanças.
Entrevista apagada do Sunday Times
A entrevista de Kirstie Allsopp ao Sunday Times foi entretanto apagada pelo jornal britânico, tendo deixado de estar acessível online.
Numa nota publicada no seu perfil do Twitter, a apresentadora explicou que “tinha estado a rever as gravações da entrevista com o Sunday Times, e concordaram que nunca tinha dito que lhe davam raiva os jovens que diziam que não conseguiam comprar casa”.
“O Sunday Times e o The Times concordaram em remover do artigo onine todas as referências a essa frase”, acrescenta Allsopp.
Na realidade, os dois jornais simplesmente apagaram o artigo.
Grande parte dos jovens de hoje não querem ter sacrifícios, acomodam-se ao abrigo dos pais e consomem como criancinhas inocentes, outros que lhe sucederão certamente já não terão a mesma base de apoio porque estes não a criaram e grande parte deles até nem descendentes deixarão, pois, optam por vida a só. Quanto a consumismo, alguém ficará a ganhar com tal forma de vida!
Não sei o que é pior, se a entrevista da senhora se o comentário deste pobre ignorante.
Acho que é a tua barba
Não, é mesmo o comentário dele. Bem revelador de capacidade de compreender a realidade em que vive.
Acho que é mesmo a tua profunda ignorância da realidade em que vives. És daqueles que o marketing adora. Aposto que já ouviste jazz e andaste de scooter, atualmente bebes gin e andas de trotinete e no futuro vais voltar a usar calças à boca de sino porque a moda é cíclica.
Boa tarde.
Tanto disparate junto, salpicado aqui e ali por um ou outro fundo de verdade…
Para começar, era preciso que os jovens tivessem emprego ou trabalho, o que já de si é hilariante…
Depois, comparar Inglaterra e Portugal…
Esta criatura foi – na altura! – ajudada pelo papá…
E podia continuar e continuar…
Ao ZAP, que muito respeito, só uma nota: não estando errado, em Portugal não dizemos “economizar” mas sim “poupar”; no geral, a notícia parece toda ela um pouco “abrasileirada”, termo este que também não existe, por isso “mea culpa”! Mas faz-me muita confusão, apenas isso… 🙂
Cara leitora,
Obrigado pelo reparo.
O nosso artigo usa, em diversas instâncias, quer variações do verbo poupar, quer do verbo economizar — que são, confirma o dicionário Priberam, sinónimos e (ambos) português pt_PT correcto.
Acresce que não encontrámos no artigo qualquer travo de linguagem “abrasileirada”.
Pode por favor especificar onde o encontra?