A primeira comissão política do PS após as eleições legislativas discutiu “a maioria de diálogo” e concluiu que é preciso cativar os jovens e diversificar o eleitorado socialista.
Segundo o Público, a decisão do Tribunal Constitucional e o adiamento da tomada de posse do Governo acabou por esvaziar a reunião.
O primeiro encontro da comissão nacional do PS, órgão máximo entre congressos, depois das eleições foi mais de balanços e reflexões — e menos de novidades.
No final de um dia em que a agenda do secretário-geral do PS e primeiro-ministro foi preenchida por uma ronda de encontros com os partidos políticos, a questão da “maioria de diálogo” prometida por António Costa desde a noite eleitoral dividiu o Largo do Rato, morada da sede do PS.
Mas o balanço que José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto do PS, fez no final do encontro reforçou a ideia de que a estratégia será para manter: “uma disponibilidade absoluta”, resumiria.
A reunião dos socialistas arrancou pelas 22h, horas depois de ser conhecida a decisão do Tribunal Constitucional — que determinou a nulidade dos cerca de 157 mil votos dos emigrantes do círculo da Europa e a realização de novas eleições nas 139 assembleias de voto que foram anuladas — e acabou por ser esvaziada.
Ainda assim, o encontro teve três horas “de discussão intensa” (ouvir-se-ia um socialista resumir nos corredores), terminando já depois da 1h.
Em declarações aos jornalistas, José Luís Carneiro afirmou que a “vitória que comporta uma responsabilidade” e que é preciso “humildade democrática” para “promover o diálogo político e social com os partidos políticos, mas também com as instituições representativas da sociedade civil” e com os parceiros sociais.
Embora houvesse expectativas sobre as novidades que poderiam sair do encontro, quer em relação ao programa de Governo, quer sobre a orgânica do próximo executivo, uma vez que a tomada de posse do Governo foi adiada, a ordem de trabalhos da reunião acabou por ser aliviada.
Aos jornalistas, José Luís Carneiro afirmou que foram dados sinais a António Costa “para que possa constituir um Governo com capacidade política para aproveitar na plenitude os recursos disponíveis”, incluindo o Plano de Recuperação e Resiliência.
Ao que o Público apurou junto de várias fontes socialistas presentes no encontro, além da discussão das vantagens e desvantagens de uma “maioria de diálogo”, a reunião foi marcada pela necessidade de cativar os jovens para o PS — o eleitorado socialista é tendencialmente mais idoso — através de respostas na área da habitação e combate à precariedade.
José Abraão, militante do PS e secretário-geral da Federação dos Sindicatos da Administração Pública (FESAP), detalhou que a questão do aumento extraordinário das pensões também foi uma preocupação, uma vez que com o atraso na tomada de posse continuará à espera de “luz verde”.
Também o investimento na habitação e no combate à precariedade salarial, incluindo das gerações mais jovens, deverá ganhar uma nova dimensão no programa do Governo, uma vez que os socialistas estão determinados a cativar eleitorado mais jovem e “rejuvenescer” o partido.
Na sua intervenção, José Abraão assinalou, entre outras prioridades, que é preciso melhorar os recursos humanos da Administração Pública, nomeadamente através da “valorização das carreiras dos técnicos superiores” e honrar “a confiança depositada” no PS.
No encontro entre socialistas não faltaram ainda críticas ao PSD pelo “atropelo ao voto dos emigrantes“, uma vez que foram os sociais-democratas que na última semana apresentaram a reclamação que determinou a anulação de 157.205 votos, ou seja, 80,32% dos 195.701 votos recebidos do círculo eleitoral da Europa.
Houve até mesmo uma moção a lamentar a decisão do PSD, uma vez que a repetição do processo irá atrasar não apenas as tomadas de posse, mas também a execução do Orçamento do Estado para 2022.
À entrada do encontro António Costa tenha ressalvado que há um “Governo em gestão” que continuará em funções e que estão dadas indicações para aprovar a proposta orçamental assim que o programa de Governo for discutido na Assembleia da República.
Mas lá dentro foram ouvidas algumas preocupações em relação aos prazos para executar medidas e já se antecipa que algumas possam irremediavelmente cair para o próximo Orçamento.
A expressão eleitoral do Chega, partido que António Costa não recebeu em São Bento por recusar negociar com o partido de extrema-direita, nestas eleições foi também discutida, com o objetivo de responder “ao descontentamento” deste eleitorado que “procura soluções de política alternativa que, neste caso em contende com valores institucionais”.
De fora do encontro ficaram outros temas que também têm marcado a agenda como o dossier da TAP, o défice orçamental de 2021 — que o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, disse ter sido inferior a 3% do Produto Interno Bruto — e, naturalmente, a orgânica do próximo executivo socialista.
Além da comissão política nacional, estiveram no encontro outros dirigentes socialistas e do núcleo de António Costa, como Ana Catarina Mendes (líder parlamentar do PS), Pedro Nuno Santos (ministro das Infraestruturas e da Habitação), Augusto Santos Silva (ministro dos Negócios Estrangeiros), e Duarte Cordeiro (secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares).